Preciso lhes confessar uma doença incurável. Eu não estou com síndrome de analista de ações. Mais do que estar, eu sou essa enfermidade. A exemplo do Nando Reis, também uso um sapato da mesma maneira, por influência do meu pai.
Comecei a me apaixonar por ações aos 14 anos, tentando imitar o velho Ramiro. Meu pai já parou, por motivo de força maior. Eu ainda não. Não fosse por essa vocação efetiva, pensaria em desistir da profissão nessa semana. Comecei a segunda-feira preocupado com as providências, como uma conta no banco que eu não tinha dinheiro pra pagar.
De súbito, foi interrompido pelo anúncio do prêmio Nobel de Economia em 2013. Já é um paradoxo em si. Não existe, de fato, um prêmio Nobel de Economia e o Sr. Alfred provavelmente estaria ofendido com a coisa. Ele desprezava pessoas para as quais os lucros eram mais importantes do que o bem-estar da sociedade.
Diferentemente dos prêmios de Física, Química, Medicina, Literatura e Paz, aquele da Economia não é pago por meio dos recursos financeiros deixados por Alfred Nobel. Para o caso, usa-se dinheiro público. O prêmio foi instituído em 1969 pelo Banco Central da Suécia, apenas em homenagem à memória de Alfred Nobel. Mas se ainda estivéssemos diante de um Amartya Sen ou Daniel Kahnemann, tudo bem, eu não reclamaria.
Agora, nomear Eugene Fama e Robert Shiller – e, pior, de maneira simultânea - é ultrajante. Supostamente, ambos teriam dado contribuições importantes para o entendimento da formação do preço dos ativos financeiros.
Sabe qual foi a efetiva contribuição de Eugene Fama para os mercados financeiros?
Uma única: fomentar a crise de 2008. Fama, assim como todo o pessoal de Chicago, é um dos responsáveis pela hipótese de mercados eficientes, expectativas racionais, suposição de apreçamento adequado dos ativos, etc.
Primeira excrescência: Robert Shiller é uma das maiores referências em Finanças Comportamentais e um ícone em estudos de bolha imobiliária, ou seja, de desalinhamento no preço dos ativos financeiros frente à racionalidade econômica.
Portanto, diametralmente oposto às ideias de Chicago. Nem quero entrar na discussão de quem está certo neste momento, mas não dá para Shiller e Fama terem razão ao mesmo tempo se eles acreditam em coisas antagônicas. Veja que não se trata apenas de uma questão platônica e ideológica.
A formulação de política econômica a partir das ideias de um confronta 100% aquela sugerida pelo outro. Falta de coerência interna do prêmio à parte, agora quero me dedicar ao Seu Eugênio. Há um episódio conhecido sobre a crise do subprime que recebeu o nome de Greenspan´s confession.
Basicamente, nele o ex-presidente do Fed reconhece que acreditou num paradigma errado sobre o comportamento dos mercados. De forma mais específica, a crença equivocada estava em dois elementos:
i) investidores individuais tomando decisões em prol do autointeresse acabariam levando ao ótimo social – em outras palavras, é uma crítica ao famoso Primeiro Teorema do Bem-Estar, da Microeconomia; e
ii) os mercados conferem o adequado apreçamento dos ativos. Foi justamente a credulidade nessa matriz teórica que fez a política econômica norte-americana alimentar a maior crise financeira desde 1929.
Para surpresa geral da nação, o sujeito que propôs a teoria dos mercados eficientes, exatamente aquela que influenciou a política monetária que custou trilhões ao pagador de impostos nos EUA, acaba agraciado pelo Banco da Suécia.
Prefiro até mesmo a fama dos Big Brothers a esse daí. PS.: Sou um pacifista, mas algo devo reconhecer na máfia: ela tem uma ética simples e direta.
Os traidores recebem a pena máxima. Eugene Fama traiu o princípio primeiro da Teoria Econômica, que preza pela alocação eficiente dos recursos. Recebeu, em vez da pena, o prêmio máximo. Não haveria momento mais apropriado para eu lhe fazer um convite: venha pertencer à Cosa Nostra Milionária. Os membros do clube estão comprando as melhores small caps da Bolsa.
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