No último mês de novembro, o Pix completou três anos desde o seu lançamento. Apesar do curto período, já é possível afirmar que ele causou uma revolução no sistema de pagamentos brasileiro, transformando tanto a relação dos consumidores com os bancos como a forma de realização das operações financeiras. Em seu primeiro ano, a modalidade apresentou a maior velocidade de adoção no mundo, totalizando 7 bilhões de transações. Atualmente, já é utilizado por mais de 150 milhões de brasileiros e movimentou R$ 17,18 trilhões apenas em 2023, um aumento de 57,8% em comparação a 2022.
Dentre os diversos benefícios trazidos pelo Pix, um dos principais é o fato de ser um grande impulsionador da bancarização e inserção financeira da população, gerando também maior inclusão digital, redução de custos com as transações para os usuários, ampliação das opções de pagamento para estabelecimentos comerciais e a disponibilidade 24 horas por dia. São esses alguns dos fatores que impulsionam sua utilização e, como consequência, geram transformações em todo o ecossistema com mudanças que eram difíceis de imaginar há alguns anos.
Um sinal destas transformações foi o encerramento das operações de DOC e TED, que aconteceu em fevereiro de 2024. Com o Pix, o volume de transações destes serviços caiu ano após ano. No primeiro semestre de 2023, enquanto a quantidade de DOC e TED representaram 0,27% das transações de pagamento, o Pix correspondeu a 35%.
Diante deste cenário é fundamental que não somente as empresas participantes do arranjo, mas todas as instituições financeiras, estejam atentas à agenda de evolução do Pix e aos efeitos que essas mudanças ainda podem causar. Atualmente, já existem diferentes modalidades do Pix que ampliaram sua utilização e ajudaram a acelerar o seu crescimento:
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Transferência instantânea: transferência imediata de recursos entre contas através da utilização de uma chave, sem a necessidade de informação de banco ou conta corrente;
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Pix cobrança: alternativa de boleto bancário que ocorre por meio da geração de QR Code dinâmico, incluindo informações como valor, data de vencimento, juros etc.;
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Pix Parcelado: permite aos usuários o parcelamento de compras em duas modalidades principais: parcelado no cartão de crédito ou como linha de crédito;
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Pix Saque: permite que o consumidor saque dinheiro em caixas eletrônicos e estabelecimentos comerciais sem a necessidade de agência ou cartão bancário;
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Pix troco: após a realização de uma compra via Pix, essa modalidade permite que o cliente receba o troco da mesma forma que o pagamento foi efetuado;
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BolePix: operação similar ao boleto bancário, porém com a possibilidade de liquidação instantânea.
Além disso, novos tipos de operações estão previstas para os próximos anos, como o Pix automático, aguardado para outubro de 2024. Neste caso, será permitido pagamentos recorrentes de forma automática, mediante autorização prévia do usuário pagador, um modelo similar ao débito automático e ampliado com a participação de todos os bancos. Outros temas como Pix Garantido e Pix Internacional já constam na agenda futura do Banco Central.
Essas evoluções, além de alavancar o potencial do meio de pagamento e ampliar as possibilidades de utilização pelos consumidores, provoca reflexões importantes no mercado como: quanto o Pix ainda pode crescer? Quais funcionalidades novas estão por vir? Outros produtos e serviços estão ameaçados?
Exemplo disso é o questionamento sobre como ficarão os boletos com o Pix Cobrança e se haverá uma sobreposição ou complementaridade. Será que o Pix conseguirá substituir os cartões de crédito e débito? Será que os relacionamentos de longa data com os clientes, os programas de fidelidade ou, por que não, o “apego” ao cartão físico que carregamos na carteira será suficiente para proteger todo o ecossistema e o mercado consolidado das empresas de cartões?
O mercado de meios de pagamento se atualiza constantemente e, como exemplo, é possível notar um movimento em relação a modalidade de débito online. Impulsionadas pela garantia de uma experiência fluida para os consumidores, segurança das transações e ampliação de opções de pagamento oferecidas aos clientes, as transações desta modalidade cresceram mais de 300% em 2023 em comparação a 2019, enquanto as de crédito online cresceram 136,1% no mesmo período (conforme dados divulgados pela ABECs).
Ainda que a jornada de evolução do Pix seja longa e dividida em diversas fases, a ampla e rápida aceitação pela população é um indício importante do potencial destas novas modalidades e, por isso, é fundamental que os bancos e demais instituições financeiras estejam atentos a estas transformações.
Acompanhar de perto a agenda do Banco Central, revisitar constantemente seu portfólio de produtos e serviços, responder rapidamente às novas demandas do mercado e, principalmente, utilizar novas tecnologias e modelos (como Open Finance e Inteligência Artificial) como alavancas de negócio é um caminho fundamental para que as empresas consigam gerar valor e capturar benefícios deste tema que é realidade no Brasil.