Esta semana se iniciou com um tom nada positivo para os mercados. Quem acordou cedo na segunda-feira (26) para acompanhar os Jogos Olímpicos assistiu de camarote à continuidade da derrocada dos índices de ações, que precificaram o anúncio de mais medidas intervencionistas por parte do governo chinês. Nas manchetes que movimentaram os mercados, apareceram os setores imobiliário, de música, de tecnologia e, em especial, o de educação privada online.
Entre as novas diretrizes — que já vinham se tornando conhecidas desde a última sexta-feira (23) —, está a proibição de acesso ao mercado de capitais por parte das empresas privadas do setor de educação, que ministram disciplinas do núcleo básico do currículo educacional. Também foram proibidos os investimentos estrangeiros nessas empresas, que passam a ser sociedades sem fins lucrativos. O governo atribuiu a medida à mudança estrutural dos valores da educação privada no país, que passou de “educacional” para “lucrativa”.
Na terça-feira (27), o índice de ações Nasdaq Golden Dragon China, que se orienta pelas 98 maiores ações chinesas listadas nos EUA, já registrava uma queda acumulada nos dois dias anteriores de aproximadamente 15%, a maior desde a crise financeira de 2008. O frenesi incomodou até mesmo o governo chinês, que chegou a convocar uma reunião com as instituições financeiras locais na quarta-feira para tentar acalmar os (des)ânimos.
Não há dúvida de que educação é um assunto sensível. Muito além dos custos, o conteúdo é o que realmente importa. Você não precisa mais do que o ensino primário completo para calcular o preço das mensalidades escolares, mas o valor da educação para a sociedade é inestimável.
Todos conhecemos histórias de transformação através da educação. Em grande medida, posso afirmar que sou uma delas. Filha de educadores do ensino básico, minha mãe é professora de português e literatura e meu pai, de matemática e química. Recebi minha herança cedo: um dicionário Houaiss, um livro do Ricardo Feltre e o acesso irrestrito a duas mentes brilhantes. A entrada da Empiricus na minha vida durante o período da faculdade foi o meu primeiro passo rumo à educação financeira. De lá para cá, nem eu mesma sou capaz de dizer com exatidão o impacto daquela minha primeira assinatura.
A educação é, sobretudo, libertadora.
Felizmente, temos observado alguns sinais de melhora no nosso país. O fenômeno do “financial deepening” é um deles. Desde o início do ano, vimos uma grande quantidade de lançamentos de novos produtos financeiros concomitantemente ao processo efervescente de nascimento de novas gestoras. A aceleração da competição entre os agentes de mercado exige do investidor cada vez mais conhecimento de análise de estratégias para se posicionar nos melhores produtos e fugir dos lobos vestidos de cordeiro. O mundo dos ETFs é um ótimo exemplo.
Existem diversos motivos pelos quais os ETFs são uma alternativa interessante para compor um portfólio. Dentre eles: diversificação, liquidez, acesso a diferentes mercados e, potencialmente, custos reduzidos. O conjunto dessas facilidades gera um instrumento que possibilita simplificação operacional e, sobretudo, agilidade na alocação tática da carteira.
E então, onde estão as pegadinhas? Eficiência e custos. A máxima de que ETFs são baratos está longe de ser uma verdade absoluta. Enquanto alguns ETFs têm taxas inferiores a 0,1% ao ano, é possível encontrar produtos que implementam estratégias mais sofisticadas com custos bem acima do 1,4% ao ano da média da indústria global.
Trazendo um pouco mais para o nosso contexto, temos atualmente os seguintes ETFs que replicam o Ibovespa, com suas respectivas taxas de administração ao ano: XBOV11 (0,5%), BOVA11 (0,3%), SAET11 (0,25%), BOVB11 (0,2%), BBOV11 (0,18%), BOVV11 (0,1%), IBOB11 (0,03%) e BOVX11 (0%).
Aqui também vale o bom e velho costume de ler as letras pequenas do rodapé. Já imaginou adquirir um produto de taxa zero e passar a pagar uma taxa mais alta que seus concorrentes após um tempo?
Também é importante estar atento à aderência do ETF ao índice a ser replicado. A habilidade dos gestores pode ser medida em grande parte pela diferença (spread) entre o ETF e seu índice de referência. Um exemplo é o XFIX11, ETF criado em novembro de 2020 com o objetivo de replicar em um único veículo o Ifix, com taxa de administração de 0,3% ao ano. No intraday de 1o de junho, enquanto o Ifix subia 0,15%, o XFIX11 chegou a cair 7%. Não há vantagem em pagar menos por um serviço inferior.
A única maneira de fugir das armadilhas do caminho é conhecê-las.
“A educação financeira de verdade [quando transpõe a barreira do conhecimento e passa para a esfera da ação] muda vidas.”
Um abraço