Você já deve estar mais do que acostumado a receber anúncios sobre cursos de educação financeira. Principalmente nos últimos três anos, esse assunto tomou uma proporção gigantesca.
Basta observar que o número de investidores na Bolsa de Valores (B3 (SA:B3SA3)) multiplicou por quatro do ano de 2018 para cá. Mas, a Bolsa é uma pequena parte de tudo isso.
Existe um bom número de pessoas que ainda não investem, pessoas que possuem algum investimento, e outras que, em grande parte, estão morrendo de medo de sair da poupança.
Afinal, será que a educação financeira serve para alguma coisa? Vou te responder de duas maneiras: com dados concretos e com o depoimento da minha experiência pessoal.
Nos últimos anos, estive envolvido no desenvolvimento dos projetos da Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF). Entre 2014 e 2019, conheci programas de educação financeira pelo Brasil e pelo mundo, que atuam com públicos diversos, desde escolas até idosos de baixa renda.
Os programas passaram por avaliações de impacto, lideradas pelo Banco Mundial, desse modo, comprovando eficácia tanto no letramento - aprendizagem de educação financeira -, quanto no comportamento dos indivíduos que passaram pelos programas.
Mergulhando mais a fundo, podemos encontrar muitas pesquisas sobre educação financeira publicadas nos últimos anos. Todas buscam identificar a validade dos programas de educação financeira. É difícil resumir todos os artigos em apenas um discurso e é por isso que, na ciência, existe uma técnica chamada meta-análise, que agrega os estudos de um determinado tema para encontrar um denominador comum.
A mais recente meta-análise sobre a efetividade dos programas de educação financeira foi desenvolvida pela equipe da Dra. Annamaria Lusardi, Diretora do Centro de Letramento Financeiro da George Washington University (GFLEC), nos EUA, o grande expoente de estudos deste assunto.
O estudo realizado pela Dra. Lusardi teve o objetivo de responder a minha pergunta no início do texto: a educação financeira realmente funciona?
Abaixo, compartilho três descobertas:
1ª: há evidências claras de que a educação financeira afeta tanto o conhecimento financeiro quanto o comportamento financeiro. As estimativas dos efeitos da educação financeira são de três a cinco vezes maiores do que as estimativas fornecidas em estudos anteriores, incluindo meta-análises anteriores. Isso mostra que os programas de educação financeira nos EUA, por exemplo, estão ficando mais eficazes com o tempo.
2ª: o impacto da educação financeira é grande o suficiente para fazer diferença na vida das pessoas. Ele é comparado, por exemplo, com as intervenções feitas nos EUA para prevenir o tabagismo ou melhorar a alimentação dos cidadãos.
3ª: persistência da educação financeira. Nos estudos do GFLEC não foram encontradas fortes evidências de que os efeitos da educação financeira possam diminuir com o tempo, pois ela persiste em sua vida adulta!
Conclusão
É fascinante quando conseguimos medir por números os efeitos e resultados do que fazemos. Dados concretos e evidências são inquestionáveis. Mas, mais do que as evidências, posso relatar aqui minha experiência na vida real: a educação financeira muda a vida dos jovens e adultos que tive a oportunidade de ensinar nesses últimos anos.
No entanto, ainda estamos diante de um desafio inigualável na nossa história recente e percebemos que as pessoas não têm por hábito juntar uma mínima reserva financeira para atravessar uma crise. A educação financeira funciona e se faz, mais do que nunca, necessária, pois está se tornando dolorosamente óbvio saber que algumas coisas são essenciais, não apenas para administrar nossas finanças, mas para sobreviver a uma crise.
Melhorar a educação financeira da população deve fazer parte da estratégia de recuperação pós-COVID, pois é uma ferramenta para seguirmos mais bem preparados para o futuro, para os choques e contribuir para ampliar a capacidade econômica das pessoas.
É a hora de pressionarmos por mais educação financeira nas escolas e no , além da oportunidade de ensinar para diferentes públicos. Voltando à nossa pergunta original: a educação financeira serve para alguma coisa? Sim, ela muda a vida das pessoas!