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A Economia da Profecia: Por Que Não é Fácil Descobrir a Nova Magazine Luiza?

Publicado 08.01.2021, 16:37
Atualizado 09.07.2023, 07:32
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Quando se trata de prever o futuro, a ignorância é um clube do qual todo mundo é membro.

Três em um

Recentemente, tenho estudado bastante sobre inovação e tendências. Um dos livros que estou lendo, Hit Makers, de Derek Thompson, não é exatamente sobre investimentos, mas fala sobre a história secreta por trás de produtos que se tornaram fenômenos.

No capítulo homônimo a este texto, Derek fala sobre o comportamento prostálgico dos seres humanos, isto é, como nos sentimos encantados por previsões.

Mas o grande problema é que, na maioria das vezes, as previsões acabam se mostrando completamente equivocadas.

Em janeiro de 2007, Steve Jobs, fundador da Apple (NASDAQ:AAPL) (SA:AAPL34), prometeu ao mundo 3 produtos revolucionários: um iPod widescreen com controles por toque na tela, um celular revolucionário e um inovador dispositivo de comunicação via internet.

Na verdade, esses três produtos revolucionários eram um único produto, que combinava todas essas funcionalidades em um e foi batizado como iPhone.

O ex-CEO da Microsoft (NASDAQ:MSFT) (SA:MSFT34), Steve Ballmer, considerou um celular de 500 dólares como algo para lá de ridículo, disse inclusive que não haveria chance alguma de o iPhone abocanhar uma fatia relevante do mercado.

Empresas especializadas produziram relatórios dizendo que o produto seria um fracasso, que um dispositivo “tudo-em-um” tinha como origem limitações financeiras e não uma aspiração.

A empresa Universal McCann chegou a fazer uma pesquisa e previu que o iPhone enfrentaria dificuldades para vender em mercados desenvolvidos como EUA, Europa e Japão porque seus consumidores não trocariam seus belos celulares, câmeras e tocadores de música por um único aparelho que não era realmente bom em nada.

O grande problema das previsões foi definido com maestria por Derek: “o futuro é uma anarquia que se recusa a ser regida até mesmo pelas previsões mais sólidas”.

O que aconteceu depois, todos sabem.

Inclusive, a probabilidade de você estar lendo este texto na tela do produto que se tornou a invenção de hardware mais lucrativa dos últimos 50 anos é bem alta.

Em menos de 4 anos, a Apple já valia mais que a Microsoft.

Gráfico apresenta Market Cap da Apple (verde) e da Microsoft (branco).

Market Cap da Apple (verde) e da Microsoft (branco). Fonte: Bloomberg.

Mas não podemos dizer que Ballmer ou a McCann estavam errados. De fato, apenas 30 por cento das pessoas na Alemanha, Japão ou EUA responderam positivamente quando perguntadas sobre a ideia de um dispositivo portátil que fazia tudo.

Era um produto nunca antes visto, não compreendido. A Apple gastou bilhões de dólares e passou 5 anos projetando um produto que os americanos realmente não queriam.

Até que, quando ele estava pronto, todos passaram a desejá-lo. A concorrência passou a copiá-lo (ex: Samsung) ou praticamente desapareceu do mercado (ex: Nokia).

A transformação digital

Para identificar produtos (ou empresas) que estão caminhando em direção a um grande sucesso, é preciso ter uma tolerância a ideias que parecem ruins ou até mesmo a ideias que parecem boas mas dão errado por conta de um timing ruim.

É inevitável que boa parte das ideias inovadoras fracasse, mas acontece que um grande acerto pode pagar por diversos fracassos.

É assim que as empresas realmente inovadoras prosperam.

É assim que quem investe em crescimento prospera.

Em muitos casos, quem investe em crescimento vai ser considerado louco ou até atacado por um coro de céticos. Mas apenas quem enxerga a realidade com olhos diferentes da maioria consegue capturar essas grandes valorizações.

Confesso que, em um mundo de informações abundantes e transparentes, encontrar empresas que combinem um grande potencial de crescimento e preços que ainda não reflitam adequadamente seu potencial não é das tarefas mais fáceis.

Afinal, se todos os investidores enxergarem a mesma coisa, a alta demanda vai elevar o preço de suas ações até o ponto em que o potencial de valorização deixe de compensar os riscos e as incertezas.

Mas desde que você esteja disposto a errar, é possível encontrar uma boa oportunidade sem precisar fazer uma previsão sobrenatural ou adivinhar o futuro.

O caso mais emblemático de crescimento no passado recente da bolsa brasileira é o da Magazine Luiza (SA:MGLU3).

Quem investiu na empresa no fim de 2015, multiplicou seu capital por mais de 344 vezes. É tentador fazer simulações de quanto dinheiro você teria caso tivesse investido na empresa neste ponto.

Mas sejamos sinceros: por que você colocaria dinheiro em uma empresa que estava dando prejuízo e não parecia saber o que fazer para mudar tal realidade?

Vamos analisar o case de uma maneira mais realista, na ótica de uma oportunidade que realmente poderia ter sido aproveitada.

Infográfico sobre ciclos estratégicos (Magazine Luiza): 

1957 – Dona Luiza (Fundação)
1991 – Luiza Helena (Crescimento)
2009 – Marcelo Silva (Consolidação)
2016 – Frederico Trajano (Transformação digital)

Ciclos estratégicos. Fonte: Magazine Luiza.

Em 2016, a empresa apresentou ao mercado sua estratégia de transformação digital. Sob o comando de Frederico Trajano, o objetivo era muito claro: a empresa deixaria de ser uma varejista com uma área digital e passaria a ser uma empresa digital com pontos físicos e contato humano.

Gráfico mostra crescimento E-commerce (R$ Bi), de 2014 a 9M17.

Crescimento do e-commerce. Fonte: Magazine Luiza.

No fim do ano seguinte, a empresa já havia dado importantes passos em direção ao seu objetivo e, o mais importante, as sinalizações do potencial de crescimento já eram visíveis.

Gráfico mostra Cotação (branco) e lucros dos últimos 12 meses (verde) de MGLU3.

Cotação (branco) e lucros dos últimos 12 meses (verde) de MGLU3. Fonte: Bloomberg.

Quem investiu na empresa no final de 2017, quando os resultados da transformação digital já começavam a aparecer e os lucros da empresa já estavam em ascensão, encontrou uma tenbagger e multiplicou seu capital por 9,5x, uma vez que os lucros da empresa só cresceram desde então (até a crise de 2020).

 

Suas próprias tenbaggers

Quando se trata de prever o futuro, a ignorância é um clube do qual todo mundo é membro.

Essa é uma das frases que mais me marcaram no livro de Derek Thompson. De fato, investir em crescimento acreditando que é possível adivinhar quais ações vão entregar a maior valorização é um dos caminhos mais curtos até o fracasso.

Mas o fato é que, apesar de ser impossível prever o futuro, você não precisa fazer isso para encontrar umatenbagger (multiplicar seu capital por 10x em uma ação).

Investir em growth não é simplesmente fazer apostas no escuro ou aceitar pagar qualquer preço pelo crescimento esperado. Investir em growth demanda muita disciplina e diligência na escolha dos ativos, assim como para identificar bons momentos de compra e venda.

Abraço

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