Talvez você já tenha ouvido que risco e retorno andam sempre juntos no mercado financeiro.
Risco e retorno, retorno e risco.
Se você ouviu assim, em perfeita simetria comutativa, tudo bem.
No limite, é como se ambas as coisas fossem uma única coisa.
Infelizmente, a maioria dos investidores é apresentada ao conceito de risco e retorno de um jeito torto, e até mesmo desonesto.
Algo como:
"O risco é um efeito colateral dos retornos que buscamos sistematicamente dentro do mercado".
A verdade, porém, é que, em sistemas complexos como o financeiro, simplesmente não existem efeitos colaterais.
É claro que sempre podemos fazer essa distinção por meio da linguagem, chamando de efeitos principais apenas aqueles que desejamos, aqueles pelos quais queremos levar crédito.
Já os efeitos colaterais seriam os pinos quadrados nos buracos redondos, pequenas distrações não antecipadas, mas que insistem em fazer parte do pacote.
Se escolhermos adotar esse tipo de linguagem — a linguagem infantil de Zaratustra —, criaremos um pedestal em que os efeitos principais se sobrepõem aos efeitos colaterais.
Tomaríamos um remédio hipotético que promete curar milagrosamente a Covid. Dias mais tarde, porém, descobriríamos que a Covid continua alojada perigosamente em nossos pulmões, e agora acompanhada de uma certa arritmia cardíaca, complicações nos rins e comprometimento da visão.
Pois é, como os efeitos colaterais não existem no sistema financeiro (a não ser no terreno retórico da linguagem), isso significa que eles podem se manifestar por si só, sem qualquer instrumento de compensação lateral.
Risco é retorno, retorno é risco. Por isso mesmo, não há qualquer garantia de que o risco que o investidor está tomando será efetivamente convertido em retorno. Como você vai converter algo que já é?
Sabemos, pelas regras de compliance, que retornos passados não são garantia de retornos futuros.
Agora precisamos aprender também que retornos passados não são garantia de retornos passados. Poderiam ter sido apenas riscos passados a limpo.