Os investidores iniciaram a semana querendo sextar. Daí porque o ritmo ontem no mercado financeiro foi de festa. O Ibovespa renovou máximas históricas - durante o pregão e de fechamento - ao passo que o dólar chegou a ser cotado abaixo de R$ 5,40. Em Nova York, a alta das bolsas também foi firme.
O movimento dos ativos de risco ocorre diante da possibilidade de Jerome Powell dar algum sinal sobre o esperado corte nos juros dos Estados Unidos na reunião de setembro - e o que pode acontecer depois. O presidente do Federal Reserve discursa no simpósio de banqueiros centrais em Jackson Hole na sexta-feira (23).
Em uma semana de poucos indicadores econômicos relevantes - e de agenda econômica esvaziada nesta terça-feira (20) - o mercado financeiro segue ansioso pela chegada da sexta. Até lá, deve ganhar corpo nos negócios locais a discussão em torno de um aumento da taxa Selic no mês que vem. Ainda mais diante da presença de Fernando Haddad (Fazenda) e Roberto Campos Neto (Banco Central) em evento do BTG (BVMF:BPAC11) hoje.
De alguma maneira, os agentes do mercado estão tentando convencer a necessidade de elevar o juro básico brasileiro no mesmo dia em que o Fed cortar a taxa americana. Com o apoio de parte da imprensa especializada propaga-se o discurso de que a desancoragem das expectativas inflacionárias e o crescimento econômico do país demandam tal ajuste.
O mercado está nu
A dúvida que fica é se a pressão por esse aumento - com alguns gestores já falando em um ciclo de aperto e vendo a Selic em 12%, como é o caso do banco de André Esteves - não seria apenas para ampliar, por aqui, o chamado diferencial de juros. Ainda mais agora que se sabe que a taxa dos EUA tende a baixar, deixando os maiores níveis deste século.
O raciocínio é simples: em uma indústria em que a renda fixa ganha “de lavada” das demais aplicações financeiras, arriscar-se na renda variável demanda maior esforço e estratégia. Afinal, se o Ibovespa está batendo sucessivos recordes em reais, em dólar ainda falta muito - ao redor de 25%.
Com o enfraquecimento generalizado da moeda norte-americana, por causa do esperado alívio monetário pelo Fed, o ativo que deveria tirar toda essa diferença não é o principal índice de ações da bolsa brasileira, mas sim, o real. O que acontece agora, então, é uma queda de braço entre Banco Central e mercado, que há muito tempo está viciado em juros.