Desde sempre, uma de nossas preocupações é com a preservação do valor do nosso patrimônio, sujeito a tantas variações, dentre elas a corrosão pela inflação. Para contornar essa situação de maneira correta e eficiente, devemos promover a diversificação dos nossos investimentos.
Títulos de renda fixa podem compor seu portfólio de investimentos pela segurança e liquidez (capacidade de transformar bens em dinheiro), ainda que sua rentabilidade muitas vezes negativa em termos reais deva ser compensada por outros ativos que superem a inflação. Imóvel costuma ser rentável, no entanto apresenta baixa liquidez, e pode exigir quantias elevadas.
O investimento em ações, diferente do imóvel, permite criatividade. Dentre as tantas formas de investir em ações, a mais clássica é comprar, “guardar na gaveta e esquecer”. Fazer aportes mensais regularmente também, mas nenhuma outra se iguala a tirar proveito das distorções que invariavelmente ocorrem de tempos em tempos no mercado. Para todas elas, é muito desejável que o investidor disponha de alguma reserva de recursos disponível para dispensar em doses homeopáticas, ou no momento oportuno, dar aquela tacada dos sonhos que te elevaria a um outro patamar. Sem essa munição é como se deparar com uma montanha de ouro e não ter uma pá!
Aplicação em ações através da Bolsa de Valores pode fazer parte do pé-de-meia de todo poupador. Primeiro porque hoje podemos aplicar qualquer quantia. Segundo pelo retorno financeiro a longo prazo, além de outros benefícios, como a isenção de imposto de renda sobre os dividendos (por enquanto).
No tempo em que o jornal de finanças Gazeta Mercantil ainda circulava, ele era entregue na minha região com um dois dias de atraso. Informações de boa qualidade eram quase inacessíveis. Mesmo com todo aquele atraso, ainda me considerava um insider (o que detém informação privilegiada). Tudo era muito lento, no entanto mais fácil de obter êxito nos negócios. Hoje, a informação é instantânea e está ao alcance de todos de forma gratuita. Todos enxergam tudo em tempo real. Aquela inércia que me trazia algum benefício na bolsa, já não existe mais. Saudosismo à parte, naquele recinto que mais parecia um templo
ecumênico, onde as batalhas eram travadas, não havia espaço para freiras. Tanto naquele tempo quanto nos dias de hoje no mercado ainda se pode servir a Deus, ou a Mamon!
Quase todos conhecem testemunhos de pessoas que investiram na bolsa sistematicamente pequenas quantias não comprometidas, que não lhes faziam falta no orçamento doméstico e conquistaram sua tão sonhada liberdade financeira. Muitas delas, sequer conheciam uma calculadora HP-12C e menos ainda os préstimos de um computador. Mas nem precisavam conhecer muito, já que, saber as quatro operações matemática é mais que suficiente, se quiser ter sucesso na bolsa. Noventa por cento do êxito em ações está relacionado ao tempo de espera no investimento. O resto depende de suas boas escolhas.
Considerando ações de boas empresas negociadas na bolsa, a melhor alternativa de investimento a longo prazo, talvez superada apenas por um negócio próprio quando dá certo, tenho uma boa notícia! Esse beneficio está à disposição todos.
Perdoe-me o leitor por me valer de exemplos um tanto pessoais e de uma época que muitos nem havia nascido, mas faço por serem didáticos. Em meados do ano 2000 eu detinha certa posição em ações do banco Banespa, a um custo médio de 2,50. Quando as ações bateram em 5, zerei minha posição com 100% e realizei meu lucro feliz da vida. Rapidamente, por ocasião da privatização do banco, que foi adquirido pelo Santander (BVMF:SANB11), vi as ações que eu vendera por 5 subirem para 120 (incluindo dividendos) em cerca de 60 dias, perdendo o melhor da festa e deixando para trás uma valorização de 2.300%. Felizes mesmo ficaram os funcionários do banco que tiveram uma parcela das ações reservada a eles em condições especiais!
Esse é um erro e recorrente a quem opera no mercado. Todos que investem em ações há muitos anos, trás no currículo em algum momento essa indesejável experiência. Até mesmo os investidores profissionais. Nessa longa jornada, pude observar que quando o mercado marca uma ação para fazê-la subir, o céu é o limite... Mas não conte com isso!
William Green relata em seu livro Ricos e Sábios, que numa entrevista com John
Templeton, o mais bem sucedido administrador de fundos de uma época, o Sir Templeton contou que comprou ações da Missouri Pacific Railroad por US$ 0,12. A ferrovia prosperou durante a guerra e as ações subiram para US$ 5, quando então as vendeu e embolsou o lucro. Disse ele, “foi uma tolice. Quatro anos depois elas valiam US$ 105”.
Após vivenciar minha própria experiência, presenciar inúmeras outras semelhantes e em consonância à citação do economista britânico John Keynes: “É melhor estar aproximadamente certo, que completamente errado”, passei a adotar o critério dos 50% em busca de equilíbrio nos resultados. A partir de então, se após uma ação subir muito, houver um viés de baixa e eu resolver vender, vendo a metade. Digamos que uma ação tenha subido 100% ou mais e você venda 50%. Apurou lucro nessa metade e zerou seu risco no restante. Tal estratégia melhorou consideravelmente meus resultados, trazendo paz e conforto emocional! Se a ação cair você fica feliz por ter apurado parte do lucro, mas continua torcendo para subir, pois não vendeu tudo. Assim, não importa o quanto uma ação já tenha subido. Você sempre pode vender; mas só a metade!
Tenho um amigo manezinho (catarinense da ilha), que quando as ações da Vale SA (BVMF:VALE3) eram negociadas perto de 5 reais (o fundo poço foi um pouco menos) na crise de 2015, deu uma tacada grande e tão certeira, que hoje quase 10 anos depois só em dividendos sem contar a valorização, lhe permite curtir seu beach tennis com os amigos nas praias de Jurerê Internacional diariamente, onde mora. Agora, quando as ações entraram num viés de baixa vendeu a metade (modéstia à parte, essa ele aprendeu comigo) e foi para a renda fixa ficar na espreita, aguardando outra oportunidade daquelas que só aparece uma vez a cada década. Ele me confidenciou que só reforçará posição na Vale novamente, quando a ação estiver sendo negociada abaixo de 50. Será que o manezinho consegue?
Concluindo, devemos usar a serenidade e a sabedoria do tempo a nosso favor. Outros já erraram por nós. O longo prazo já provou suas vantagens, o curto porem... Mas como hoje vivemos na era do fast food, alguns apressadinhos vivem como se fossemos morrer na próxima hora, então: “que tragam o bezerro cevado, matem-no, comamos e alegremo-nos!”