Para quem não conhece, Nassim Taleb é um dos maiores ensaístas e analistas de risco da atualidade. Seus livros abordam as incertezas oriundas ao mercado de capitais. Eventos imprevisíveis - positivos ou negativos - que geram grande impacto no preço de ativos, empresas e às vezes, de países inteiros. Esses eventos foram batizados por Taleb como Cisnes Negros, em alusão ao improvável nascimento de uma ave dessa espécie com essa cor.
A descoberta do pré-sal, para a Petrobras (SA:PETR4), é um exemplo de cisne negro positivo assim como a queda da barragem de Brumadinho seria um exemplo negativo para a Vale (SA:VALE3).
Taleb também foi o criador do conceito da antifragilidade que seria exatamente o oposto da fragilidade, porém indo muito além da robustez. Algo robusto resiste ao impacto, mas permanece igual enquanto o antifrágil melhora com o impacto.
Conhecendo esses dois conceitos é possível entender a Barbell Strategy, método de investimento proposto em seu livro “Antifrágil: Coisas que se Beneficiam com o Caos”.
Barbell é a famosa barra de supino presente nas academias e no crossfit (uma espécie de balada fitness para modelos e marombados):
Dois pesos, um em cada ponta, sustentados por uma barra linear.
Taleb propõe que um portfólio antifrágil deve possuir muito de algo com o pouco risco e pouco de algo com muito risco: essa assimetria manteria seu capital protegido, pois no caso de um Cisne Negro, seu patrimônio se valorizaria significativamente.
Nos EUA não há dificuldade em se montar tal estratégia. 90% de Government Bonds e 10% de calls e puts não correlacionadas.
Mas lá o mercado de derivativos está 1000 anos luz à frente. É possível, por exemplo, ter em carteira opções de compra e venda de SPX (ETF que replica o S&P 500), com vencimento em 2021 e com vários valores de strike. Infelizmente por aqui, derivativos ainda estão engatinhando.
Então como montar um portfólio antifrágil num mercado com poucas opções de derivativos e com tão baixa liquidez?
Uma alternativa para o mercado doméstico seria trocar a Barbell pela Dumble Bar, encurtando a distância entre uma ponta e outra. Assim, a assimetria seria diminuída, mas o conceito permaneceria vivo.
Nesse caso, na ponta conservadora podemos ter um Título indexado ao IPCA de longa duração (B´s longos). Há algo mais seguro no mercado doméstico do que Títulos Públicos indexadas à inflação? Se tudo der errado no âmbito macroeconômico, ganha-se IPCA + uma pequena taxa.
Mas e na ponta do risco?
Você poderia fazer uma fezinha na Mega-Sena toda semana. Nesse caso, a probabilidade de seu cisne negro dar as caras seria de uma em 50 milhões.
Você poderia comprar criptomoedas. Veja, não há mal algum em apostar na valorização do Bitcoin, desde que você saiba que ele não é uma forma de investimento, pois não há como se fazer valuation. Qual o valor justo de 1 BTC e porquê? Sua apreciação ou depreciação ocorre unicamente pelo interesse especulativo de quem compra e de quem vende.
Brincadeiras à parte, fato é: mesmo na ponta do risco, precisamos de racionalidade na tomada de decisão.
Desta forma, penso que o lado malvadão da sua barra curta poderia ser preenchido por aquelas empresas que têm um alto potencial de valorização, mas não possuem a robustez necessária para te deixar tranquilo quanto a previsibilidade dos resultados.
Se pensou nas Small Caps, acertou. Se pensou na ETF SMAL11 (SA:SMAL11), acertou na mosca!
O índice é composto por cerca de 70 empresas com valor de mercado inferior a R$ 2 bi e seu peso na carteira teórica é atribuído pelo volume de negociação.
A ETF SMAL11 replica essa carteira - assim como BOVA11 (SA:BOVA11) replica o IBOV.
O raciocínio é simples: se de 70 empresa pequenas, 30 quebrarem, 30 andarem de lado e 10 se multiplicarem por 300, 1.000, 10.000% em 5 anos, atingimos o objetivo.
Sendo assim, o Dumble Bar Strategy Tupiniquim, não teria o potencial de retorno do seu parente americano, mas seria uma alternativa aos investidores mais conservadores, por trazer 90% de alta segurança e 10% de alto risco.
Se vale a pena a estratégia? Bem, talvez no Brasil das décadas de estagnação econômica, o Cisne Negro possa ter nome, sobrenome e estar à frente do Ministério da Economia.
A conferir.