Desde a segunda quinzena de abril tem sido observado uma escalada nas taxas das NTN-B e em 13/06 chegamos a ter oferta do Tesouro IPCA 2029 a uma taxa de IPCA + 6,49%, uma taxa que realmente se mostra muito atrativa, principalmente por se tratar de um ativo de risco soberano.
E aí, diante deste cenário entramos num ponto que eu tenho abordado bastante. Como fica o assessor comissionado diante de um produto que não paga comissão, mas que faz bastante sentido para todos os perfis de investidor?
Muito tem sido discutido sobre os possíveis conflitos de interesse envolvendo o modelo de comissão tradicional e já é possível observar que alguns escritórios de assessoria tem feito a migração para o modelo de fee fixo, onde a cobrança é feita considerando o patrimônio sob gestão. Diante de um cenário de remuneração por comissão, como fica a indicação de um produto que não remunera o profissional?
Algo que eu tenho comentado é que o Tesouro IPCA nas taxas altas que estão acaba sendo um teste de ética e alinhamento dos profissionais de assessoria. Isso porque Tesouro Direto é um produto que não gera receita para o assessor.
Um título público vai gerar comissão para um assessor quando for ofertado um título de mercado secundário da tesouraria da corretora. Nesse caso haverá a comissão, porém, as taxas ofertadas serão menores que as taxas ofertadas no Tesouro Direto.
Pense agora como um assessor que tem um salário pago por comissão. O que você faria: ofereceria Tesouro Direto, porém, sem comissão por isso ou ofereceria o título público do secundário com uma taxa menor para o cliente, porém, com comissão? O que você faria? Fica esta reflexão.
Acho muito pertinente comentar: não é o modelo de remuneração que define se o profissional será bom ou não, quem define isso é o caráter, mas é evidente que no modelo comissionado o assessor tende a trabalhar num conflito de interesses grande: aumentar retorno do cliente ou aumentar o próprio salário?
O objetivo desse artigo é mostrar uma vivência do mercado e alertar para os possíveis conflitos de interesses que podem surgir por parte dos profissionais de assessoria. Acho válido sendo um assessor dar transparência sobre esse processo, porque todos ganham assim: o profissional, o cliente e o mercado.