Artigo publicado originalmente em inglês no dia 20 de junho de 2018.
A Opep, o cartel dos países exportadores de petróleo, se reunirá esta semana em Viena. Mais recentemente, em 2016 e 2017, o cartel foi declarado como "morto" por alguns especialistas, mas hoje parece revitalizado e novamente um dos principais motores do mercado de petróleo. Então, entenda o que não devemos perder de vista antes do início da reunião:
1. Demanda atual de petróleo
De acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), o excesso global de petróleo que levou os preços a cair em 2015 e 2016 está resolvido. De fato, a AIE alertou que, a menos que a Opep aumente sua produção de petróleo, a crescente demanda em 2019 tornará o mercado "vulnerável a novos aumentos de preços". Até mesmo o ministro do Petróleo dos Emirados Árabes Unidos, que atualmente ocupa o cargo de presidente da Opep, disse nesta semana que o mercado de petróleo está prestes a se reequilibrar.
Assim, a questão para os quatorze países membros na próxima reunião será aumentar ou não a produção de petróleo a partir de julho.
2. Redução da produção de petróleo da Opep
De acordo com a Thomson Reuters, a produção total de petróleo da Opep em maio foi de 32 milhões de barris por dia. Isso supera em 700.000 barris por dia os cortes previstos pela Opep. A Líbia e a Nigéria sofreram interrupções intermitentes das exportações de petróleo, e novos confrontos na Líbia provavelmente resultarão na interrupção da produção de petróleo e exportações no futuro previsível. No entanto, a Venezuela é responsável pela maior parte do declínio na produção. Em maio, a produção de petróleo da Venezuela registrou novos mínimos. Segundo a Platts, a Venezuela produziu apenas 1,36 milhão de barris por dia, abaixo da cota de 1,97 milhão de barris por dia. Há sérios indícios de que a produção da Venezuela continuará em declínio. Tanto a Agência de Informação de Energia quanto a Agência Internacional de Energia acreditam que a produção de petróleo da Venezuela diminuirá em junho ou julho para menos de um milhão de barris por dia, e que essas interrupções impulsionarão os preços do petróleo no segundo semestre de 2018.
3. Principais produtores
Arábia Saudita e Rússia, os principais produtores do cartel, mostraram interesse em aumentar a produção de petróleo quando os ministros do petróleo Khalid al Falih e Alexander Novak reuniram-se no Fórum Econômico em São Petersburgo em 25 de maio. Os dois ministros, de acordo com relatórios, conseguiram chegar a uma proposta para aumentar gradualmente a produção de petróleo no restante de 2018. Foi mencionado um leque de possibilidades, incluindo aumentos de 300,000 bpd por dia (menos de 1% do total produzido pelos países da Opep e países produtores participantes não membros da Opep), 500.000 barris por dia, 700.000 barris por dia, 1 milhão de barris por dia e 1,5 milhão de bpd. A ideia seria aumentar gradualmente a produção para compensar as perdas da Venezuela e de outros membros da Opep que enfrentam declínios involuntários.
4. A oposição
O Irã está protestando energicamente pelo aumento da produção porque as novas sanções dos Estados Unidos dificultarão a venda do petróleo que o país já produz. O Irã já foi forçado a vender seu petróleo com desconto e o aumento na produção afetaria a receita do país ainda mais. O país também se sente esnobado por seus colegas membros da Opep depois que a entidade rejeitou seu pedido de apoio em face das novas sanções dos EUA.
O governador do Irã na Opep disse no domingo que "se o Reino da Arábia Saudita e a Rússia quiserem aumentar a produção, a unanimidade é necessária. Se ambos querem agir sozinhos, é uma violação do acordo de cooperação". Ele também disse que "três fundadores da Opep vão parar isso" (referindo-se ao Irã, Iraque e Venezuela).
Isso não significa necessariamente que a proposta da Arábia Saudita e da Rússia seja descartada antes mesmo de sua chegada. Os membros da Opep costumam fazer declarações grandiosas como essas antes das reuniões e depois conseguem fazer acordos em Viena. Nenhum país quer se isolar definitivamente do poder que emanda da filiação à Opep.
O Iraque também se opõe a qualquer aumento na produção total. No entanto, o país vem produzindo excessivamente além da sua cota desde o início dos cortes da produção. Segundo Platts, o Iraque produziu 4,47 milhões de barris por dia em maio, o que representa 0,12 milhão de barris por dia a mais do que a produção atribuída. Dado que o Iraque solicitou uma isenção de cortes da produção em quase todas as reuniões da Opep desde novembro de 2016 — quando os cortes foram aprovados pela primeira vez — é possível afirmar com segurança que o Iraque quer produzir mais petróleo. É que o Iraque quer ser o único que produz mais além dos limites.
5. As expectativas de outros membros
O Kuwait e os Emirados Árabes Unidos permaneceram em silêncio até agora, mas é provável que eles apoiem a proposta da Arábia Saudita de aumentar gradualmente a produção de alguma forma. Explosões de temperamento e discursos inflamados antes de uma reunião da Opep não são incomuns. Haverá três dias de reuniões esta semana. Primeiro, os países que fazem parte do Comitê Conjunto de Supervisão Ministerial (JMMC) se reunirão na quinta-feira para avaliar as cotas de cumprimento e produção. A Opep celebrará sua reunião com todos os governadores na sexta-feira e depois se reunirá com os ministros da Opep para a reunião conjunta no sábado.
De acordo com o ministro equatoriano do petróleo, a Rússia e a Arábia Saudita propuseram um aumento conjunto na produção dos países membros e não membros da Opep de 1,5 milhão de barris por dia. No entanto, levando em conta que a maioria dos países produtores, exceto Arábia Saudita, Rússia, Emirados Árabes Unidos, Cazaquistão e Equador, não têm muita capacidade, os aumentos reais seriam inferiores a 1,5 milhão de barris por dia, se aprovada essa proposta.
Enquanto isso, Khalid al Falih da Arábia Saudita continua a pressionar pela preservação do que considera um acordo "razoável e moderado", mas "inevitável", para aumentar a produção de petróleo.
O mercado parece contar com o aumento da produção de petróleo da Opep e da Rússia, portanto, se não houver acordo para aumentar a produção, os preços do petróleo dispararão. Por outro lado, há indícios de que, independentemente da decisão da organização nesta sexta-feira, alguns produtores poderiam aumentar a produção nos próximos meses.
Nota da autora: Para mais informações sobre o impacto da Opep e da Rússia no mercado de petróleo, consulte o Energy Week Podcast.