Pela segunda semana seguida o Índice Bovespa fechou batendo novo recorde, dessa vez fechando em 130.776 pontos. É a terceira semana seguida de alta da bolsa brasileira, trazendo otimismo para os investidores e chamando a atenção daquelas que não levavam muito fé em seu desempenho.
Nos últimos dias inclusive grandes bancos aumentaram suas projeções de crescimento para o país. O Goldman Sachs (NYSE:GS) elevou suas projeções de crescimento do PIB brasileiro de 4,6% para 5,5% em 2021. O Bank of America foi na mesma linha, alterando suas previsões do PIB de 3,2% para 5,2%.
Mas quais os motivos que levaram a essa alta da bolsa? Por que, de repente, o mundo voltou a ficar otimista com o Brasil? Logo abaixo você vai encontrar os 4 principais vetores que desencadearam essa alta e quais as expectativas para nossa bolsa até o final de 2021.
RECUPERAÇÃO MUNDIAL: O BRASIL COMO FORNECEDOR DE MATÉRIAS-PRIMAS
Os números que vem sendo divulgados ao redor do mundo comprovam que a economia mundial está em plena recuperação e aceleração. Os principais agentes desse crescimento são as maiores economias do mundo, a China (o país que pouco sofreu com os efeitos econômicos da pandemia) e os Estados Unidos, que com o avanço das vacinações, está em pleno retorno à normalidade. Os demais países da Ásia também ajudam a puxar esse crescimento global.
Os países desenvolvidos devem retornar aos patamares pré-covid rapidamente, com exceção da Europa, que registra recuperação mais lenta. Enquanto isso, os países emergentes tendem a demorar mais para se recuperar. Essa diferença se dá na velocidade de vacinações, muito maior nos desenvolvidos do que nos emergentes.
Sempre no início de um ciclo de crescimento econômico, há uma demanda forte por commodities, e os países produtores desses itens se beneficiam desse cenário. Com o Brasil não está sendo diferente: o já previsto ciclo de commodities está impulsionando nossa economia, e conforme os dados divulgados recentemente, o país registrou crescimento de 1,2% no último trimestre, atestando que a economia do Brasil já atingiu os patamares pré-crise do Covid-19, diferentemente da maioria das demais economias emergentes.
A maior parte desse crescimento veio das exportações, que dispararam nos últimos meses. Entre novembro de 2020 e abril de 2021 houve um forte crescimento, registrando um aumento de 43,8% no volume exportado. O aumento das exportações impacta diretamente em nossa Balança Comercial. O Brasil deve registrar superávit de US$ 70 bi em 2021, segundo previsões da FIESP.
DEMANDA REPRIMIDA AQUECE O CONSUMO
Com o isolamento social e ambiente de incerteza que ronda nosso futuro econômico, muitas famílias acabaram por consumir menos produtos não-essenciais e serviços nos últimos meses. Tal fenômeno ocorreu em praticamente todos os países do mundo, como pode ser verificado no gráfico abaixo.
No Brasil, estima-se que essa poupança foi de R$ 190 bilhões em 2020, o que representaria 2,5% do PIB, elevando a taxa de poupança do pais de 12,5% para 15%. Talvez até mesmo você, que está lendo esse artigo, deve ter notado que reduziu seus gastos durante o período de pandemia.
Pois então, os números mostram que as famílias pararam de poupar e voltaram a consumir, despejando na economia todo esse volume poupado e toda essa demanda reprimida. Não é à toa que muitos setores não estão dando conta da forte demanda, até mesmo por não esperarem que essa retomada fosse tão rápida.
Com o aumento no consumo, as empresas voltaram a vender e faturar, seus lucros voltaram a crescer e consequentemente isso impacta em suas ações negociadas.
AS VACINAÇÕES AVANÇAM
Nos dias de hoje, não há como dissociar as expectativas de crescimento econômico com as expectativas de vacinação. É dessa forma que os investidores estão fazendo suas projeções, sejam com relação ao crescimento global, seja com relação ao Brasil.
No mundo, as vacinas avançam. Até o final de Maio, mais de 21% da população mundial já havia sido vacinada ao menos com uma 1ª dose. Não é à toa que os países mais avançados em seus programas de vacinação também os países que estão saindo mais rapidamente da crise.
O Brasil passou por uma fase muito difícil na oferta de vacinas para sua população. Entre Março e Abril, por diversas vezes o programa precisou ser interrompido por falta de doses. Ainda estamos em situação delicada, mas as previsões de chegadas novos lotes, além do início da produção nacional do IFA para a fabricação das vacinas fazem com que as perspectivas sejam mais otimistas.
REDUÇÃO DA DÍVIDA DO GOVERNO
O alto grau de endividamento do governo brasileiro sempre foi objeto de preocupação. Entretanto, essa curva ascendente de crescimento parece ter arrefecido. Em abril, a dívida do setor público sofreu novo recuo, indo para 86,7% do PIB (R$ 6,66 trilhões), segundo números do Banco Central.
Esse movimento, se for analisado no detalhe, decorre mais por eventos extraordinários do que ações de longo prazo: impostos que não foram pagos em 2020 que começam a entrar em 2021, parte das despesas que não entraram no último balanço, e aceleração da inflação.
Mesmo assim, a questão fiscal possui um peso muito grande na tomada de decisão de investidores estrangeiros. Um país menos endividado passa mais credibilidade. Por conta disso, muitos recursos acabaram voltando para o Brasil nas últimas semanas, derrubando inclusive a cotação do dólar.
FUTURO: AINDA HÁ ESPAÇO PARA CRESCIMENTO DO IBOVESPA?
Essa é a pergunta que começa a tomar conta do noticiário financeiro. Na casa dos 130 mil pontos, será que nossa bolsa ainda tem espaço para crescer mais? Segundo algumas análises, sim. Se formos avaliar o P/L médio (relação Preço sobre Lucro, indicador fundamentalista mais popular) do Ibovespa nos últimos 10 anos (11,6x), até o final de Maio nossa bolsa ainda estava abaixo dessa média (10,7x).
Em resumo, nossa bolsa ainda estaria “barata”, pois ao analisar esse indicador, quanto menor ele for, mais barato está um ativo ou um índice. Levando em consideração também nossa moeda (que foi a que mais se desvalorizou perante o dólar em 2020), nossa bolsa estava mais barata ainda em dólar. Os investidores sabiam disso, por isso voltaram a entrar no país com seus recursos.
Mas nem tudo são flores: alguns riscos se desenham no horizonte. A inflação segue muito alta, há uma eminente crise hídrica em nosso país (que pode comprometer seriamente o fornecimento de energia e freiar nossa retomada), e a vacinação ainda não engrenou como precisamos, cujo cenário ideal seria chegarmos a uma média de 1,5 milhões de doses aplicadas por dia.
De qualquer forma, com essa última alta, está mais difícil encontrar ativos e setores baratos. Podemos ter novas altas no índice, mas desde que haja uma rotação nos ativos. Ou seja, alguns setores que ainda não andaram precisam começar a subir, como o setor de construção civil e serviços financeiros, por exemplo.
Ainda assim, o mercado vê nossa bolsa entre 145 e 150 mil pontos até o fim de 2021. Mesmo que essa perspectiva seja atingida, isso não acontecerá “em linha reta”. Certamente teremos ajustes, desde que o investidor tenha paciência para entrar com preços mais atrativos.
O fato é que o outrora patinho feio parece que passou a ser visto pelo mercado como um belo cisne querendo criar asas e voar. Mas será que agora vai? O que você acha? Comente aqui embaixo! Te espero no próximo artigo!