Por Clement Thibault
O Twitter anunciará seus resultados do quarto trimestre de 2016 antes da abertura do mercado nesta quinta-feira (9/2). A companhia deverá apresentar um lucro por ação GAAP de US$ 0,11 e non-GAAP de - US$ 0,15, com receita de US$ 739 milhões.
1. Crescimento de usuários
Assim como as demais redes sociais, o crescimento no número de usuários é visto como uma das principais métricas na avaliação das perspectivas do negócio. Infelizmente, o crescimento no número de usuários do Twitter tem disso problemático, para dizer o mínimo.
Quando o Twitter passou a ter ações negociadas na bolsa no fim de 2013 mostrava um crescimento anual de 25% no número de usuários. No entanto, os números têm sido cada vez mais fracos nos últimos três anos. O crescimento tem sido tão anêmico que nos últimos três trimestres caiu para apenas 3% por período. Enquanto o Twitter diz que possui uma média mensal de 317 milhões de usuários, para entender o verdadeiro potencial da rede social – e a atual incapacidade de chegar lá – é melhor comparar com o Facebook, que ainda mostra fortes números de crescimento. Em seu último balanço, o FB disse que nos 30 dias antes da publicação a média mensal somou 1,86 bilhão de usuários.
2. Efeito Trump
Talvez a principal área de potencial crescimento do Twitter venha do seu uso como uma plataforma mensagens e discursos políticos, um movimento liderado por não menos do que o tweeter-em-chefe dos EUA, Donald Trump. De fato, parece que Trump está tuitando constantemente seja da sua conta pessoal @realDonaldTrump ou de sua conta presidencial @POTUS. Ele utiliza a plataforma para diversos propósitos – para chamar atenção e elogiar companhias e pessoas; para contornar o uso da mídia tradicional; e para falar diretamente sem nenhum tipo de censura.
O Twitter foi um dos principais meios de comunicação da campanha presidencial de Donald Trump e segue sendo sua escolha de mídia. Isso é uma boa notícia para a empresa, por uma série de razões.
Primeiramente, esse acesso sem precedentes aos pensamentos, emoções e opiniões do presidente atrai usuários para a plataforma com o objetivo de ler, debater e contra argumentar suas declarações. É razoável prever que o forte uso de Trump no Twitter possa parcialmente explicar o crescimento previsto pelos analistas no 4T16.
Em segundo lugar, a campanha de Trump foi muito baseada no sentimento antissistema e antimídia, que o levou para o Twitter. Ao utilizar a plataforma, ele pode seguidamente atiçar a corrida. Com dois eventos importantes políticos na Europa em 2017 – eleições presidenciais na Alemanha e França – não seria suma surpresa que partidos políticos copiem a tática dado o imenso sucesso de Trump no Twitter. Claro que isso levaria a uma maior exposição da plataforma em toda a Europa.
O Twitter precisa desesperadamente por um catalisador para aumentar o número de usuários. A política pode ser o caminho.
3. Monetização
O propósito de todos os negócios é fazer dinheiro e, se negociado em bolsa, remunerar os acionistas. Assim como o crescimento no número de usuários, a receita trimestral do Twitter vem desacelerando para uma estabilidade. Um aumento anual acima de 100% era considerado normal para o Twitter. De fato, esse foi o percentual durante todo o primeiro ano na bolsa, ao longo dos quatro trimestres de 2014. Surpreendentemente, no último balanço apresentado, a companhia mostrou alta pálida de 8% na receita, seu primeiro crescimento abaixo de 10%.
Uma série de fatores afetam a primeira linha do balanço do Twitter. Para começar, a competição está afetando a companhia. A gigante Alphabet e o líder do setor Facebook continuam a receber a maior parcela dos orçamentos corporativos para propaganda online. Esse fato está diretamente ligado ao fraco aumento no número de usuários dado que os anunciantes priorizam a exposição para diferentes demografias e novos potenciais consumidores. Enquanto o Facebook deve continuar a liderar nesse setor, uma nova onda de crescimento no número de usuários pode ajudar o Twitter a capturar uma maior fatia do orçamento de publicidade.
As opções de monetização do Twitter também não estão ajudando. Hoje, a maior parte da receita do Twitter vem do pagamento de tuites promocionais, contas especiais e trend topics patrocinados. Enquanto isso gera alguma receita (US$ 544 milhões no último trimestre), não é o suficiente. O Twitter precisaachar outros meios de gerar receita da sua base de usuários e dos 500 milhões de tuites enviados diariamente – quase 6 mil por segundo.
4. Estabilidade gerencial
Em 24 de janeiro de 2016, a imprensa informou que quatro dos principais executivos do Twitter – entre eles Kevin Weil, diretora de produto, e Katie Stanton, diretora de mídia – estavam deixando a companhia. Isso ocorreu apenas seis meses após a renúncia de Dick Costolo, que comandou a companhia entre 2010 e 2015. Na época da saída de Costolo, em julho de 2015, Jack Dorsey, cofundador e ex-CEO – demitido pelo conselho do Twitter em 2008, e criardor da Square (NYSE:SQ) em 2010 – foi reconduzido ao comando da companhia, apesar de continuar controlando a Square, no início de 2016. Em outras palavras, desde seu retorno, Dorsey é de fato (ou pior) CEO de meio-período da companhia que enfrenta dificuldades.
Quando Dorsey voltou ao Twitter, inicialmente como CEO interino, a ação flutuava em cerca de US$ 35. Desde então, e após ter sido nomeado como CEO definitivo, a ação apontou para baixo, fechando ontem a US$ 18,26.
A única vez que a ação viu ganhos significativos durante os últimos meses foi no final de setembro, quando relatório mostrou que a empresa poderia ser vendida. Potenciais compradores incluíam Google, Salesforce, Verizon, Microsoft e Disney. No fim, nenhuma dessas empresas se interessou por desembolsar os recursos necessários para a aquisição.
Se os principais executivos deixaram por vontade própria ou se foram demitidos não é tão importante; é uma bandeira vermelha de qualquer forma. Algo está terrivelmente errado quando uma companhia em dificuldades tem seus principais executivos deixando em massa o comando em busca de novas oportunidades. E mesmo que Jack Dorsey tenha sido reconduzido porque é um ‘visionário’ e poderia ‘salvar a empresa’, nenhum salvamento ocorreu até agora.
Conclusão
O Twitter precisa desesperadamente de uma liderança e uma visão real, ambos que realmente em falta no momento. Mesmo assim, continuamos a acreditar que o Twitter possui um potencial enorme.
Quando algum evento importante ocorre – local ou globalmente –, notícias urgentes, ou quando existe algo que que valha saber ou compartilhar ou ler de amigos, comunidades, celebridades, líderes políticos e organizações, o Twitter geralmente é quase sempre a principal plataforma de comunicação, tanto por seu imediatismo quando pela facilidade em compartilhar conteúdo. Um tuite publicado no momento certo pode viajar mais rapidamente e uma maior distância do que nas demais redes sociais.
Infelizmente para o Twitter, contudo, a rede não opera mais no vácuo. O Facebook tem sido utilizado como uma linha direta de comunicação entre políticos e celebridades com seus seguidores. Instagram e Snapchat também permitem o compartilhamento de imagens e vídeos com um imediatismo crescente.
O interesse dos investidores por uma venda Twitter no futuro próximo ainda não diminuiu, mesmo após o fim dos rumores. Enquanto um comprador com recursos e motivado poderia impulsionar a ação Twitter para novos patamares, os rumores sem fim sobre uma possível aquisição mostra a atual falta de confiança dos acionistas na liderança da empresa.
Se amanhã o Twitter apresentar um crescimento no número de usuários no quarto trimestre de 2016, o preço da ação sem dúvida irá subir, possivelmente até 15%. Contudo, ainda não irá solucionar o problema de longo prazo que assola a empresa. Por enquanto, recomendamos que não se invista no Twitter até que o cenário fique mais claro.