Artigo publicado originalmente em inglês no dia 27/9/2017
Durante os primeiros 25 dias de setembro, os preços do petróleo Brent avançaram 12,7% para US$ 59,02 por barril. Após quase três anos de preços deprimidos e um verão no Hemisfério Norte em que o Brent chegou à mínima de US$ 44,82 por barril, há rumores de que esse salto é o início de uma recuperação de preços mais significativa. É importante entender que elementos no mercado podem ter contribuído para este salto nas últimas três a quatro semanas.
1) Referendo de independência do Curdistão
Durante as últimas semanas, temores de instabilidade no Oriente Médio cresceram porque 25 de setembro, data do referendo do Governo Regional do Curdistão (GRC) sobre a independência curda, se aproximava. Na última segunda-feira, Recip Tayyip Erdogan, presidente turco, ameaçou interromper a operação do oleoduto Ceyphan, que leva cerca de 550.000 barris por dia de petróleo da região do GRC para um porto na Turquia. Embora, enquanto este artigo é escrito, a Turquia não tenha cumprido a ameaça, Erdogan reiterou seu compromisso de "fechar a torneira" do petróleo curdo como retaliação a esse referendo.
O medo de uma instabilidade geral e, particularmente, uma redução na oferta das regiões curdas, têm feito com que os preços do petróleo subam. Ninguém sabe que instabilidade poderá ocorrer ou como as questões geopolíticas serão resolvidas. Enquanto a Turquia, o Irã e o Iraque estão descontentes com o referendo, e também ameaçaram o GRC, os curdos possuem um argumento forte pela soberania com base em suas forças armadas bem testadas, controle do território, economia existente e controle da água corrente do rio Tigre.
2) Pacto de cortes na produção da Opep e países externos à organização
O comitê de monitoramento da Opep e de países externos à organização se reuniu em Viena em 22 de setembro e anunciou que a sobreoferta global de petróleo está "no meio do caminho" de ser eliminada. Ao mesmo tempo, o comitê não fez quaisquer recomendações se os cortes na produção deveriam ser estendidos para além de março de 2018, data em que termina o atual acordo. Alexander Novak, ministro russo do petróleo, mencionou a possibilidade de uma "estratégia gradual e lenta de saída" que o grupo poderia implementar em algum momento no segundo semestre de 2018. Novak indicou que a Rússia estaria aberta a decidir se estende ou não os cortes na produção em janeiro. O comitê também discutiu os limites de produção para a Líbia e a Nigéria, que fazem parte da Opep, cujas produções sem restrições têm feito os preços caírem. Embora não tenham sido feitos compromissos, a indicação é que algum compromisso da Líbia e da Nigéria para que sejam feitos cortes na produção está próximo.
Ao contrário de maio passado, quando o mercado caiu após a Opep anunciar uma extensão dos cortes na produção sem cotas adicionais, o mercado viu esse anúncio sobre a sobreoferta "no meio do caminho" de ser eliminada e a abertura para a continuidade dos cortes e sua possível ampliação como sinais positivos e os preços do petróleo subiram.
3) Projeções de estoques
Projeções recentes do Trafigura, grupo de tradingde petróleo, e da Agência Internacional de Energia preveem escassez de petróleo já em 2019 ou 2020. O Citigroup ecoou esse sentimento, explicando acreditar que vários produtores importantes da Opep (Líbia, Nigéria, Venezuela, Iraque e Irã) estão atualmente explorando petróleo em suas capacidades máximas. Logo, o Citigroup acredita que o mercado não deveria temer um aumento súbito na produção de qualquer um desses produtores no futuro próximo.
Essas projeções são outro motivo pelo qual os preços do petróleo subiram ultimamente. São notícias muito boas para aqueles que buscam preços mais altos do petróleo. A questão agora é se projeções nos próximos meses coincidirão com estas. Além disso, há muitos outros produtores que poderiam aumentar a produção caso a oportunidade surja (e preços mais altos do petróleo representam tal oportunidade).
4) Momentum
O momemtum nas negociações é um aspecto significativo do salto recente. Narrativas recentes de fontes relevantes de notícias descreveram o mercado como deixando a situação de baixa para o mercado em alta. Essas declarações são também profecias autorrealizáveis, já que criam uma expectativa de que os preços do petróleo continuarão a subir. Com notícias ou conjecturas contínuas sobre perturbações na oferta, cortes da Opep ou escassez futura, o impulso pode continuar. Até certo ponto, a perpetuação do impulso de alta depende em sua maior parte do que sentem os investidores e especuladores. Isso poderia fazer o petróleo subir, mas hoje poucos preveem que isso poderia levá-lo diretamente à faixa de mais de US$ 70.