Após vários trimestres de intenso crescimento, a Netflix (NASDAQ:NFLX) (SA:NFLX34) acabou perdendo força. A gigante do streaming está caminhando para registrar seu mais lento ano de crescimento desde 2013, uma repentina reversão que está deixando seus investidores inquietos.
A companhia adicionou 1,54 milhões de clientes no segundo trimestre encerrado em 30 de junho. Considerando os novos clientes no primeiro trimestre, a Netflix registrou um aumento de cerca de 5,5 milhões de assinantes, pior desempenho desde o primeiro semestre de 2013, quando o serviço estava operando em menos da metade dos países em que está presente neste momento.
Esse peso-pesado dos serviços de comunicação com sede em Los Gatos, Califórnia, culpou o crescimento acelerado do ano passado por seus resultados recentes, quando cerca de 26 milhões de novos clientes assinaram a Netflix no primeiro semestre. Naquele momento, as pessoas estavam confinadas em casa por causa da pandemia e correram para assistir seus filmes e programas.
A companhia também disse aos investidores que espera adicionar 3,5 milhões de assinantes no terceiro trimestre, bem abaixo dos 5,86 milhões projetados pelos analistas.
Essa fraca projeção de crescimento está mantendo vários investidores de fora e deixando-os inseguros com a perspectiva da companhia no ambiente pós-pandemia. As ações da Netflix mal se mexeram neste ano, enquanto o índice Nasdaq Composite se valorizou mais de 16%.
Esse baixo desempenho de uma das empresas de mídia mais inovadoras do nosso tempo é um sinal preocupante para investidores de longo prazo ou para quem deseja apostar nela agora?
No curto prazo, a Netflix pode continuar registrando baixo desempenho, à medida que o crescimento do número de assinantes desacelera, após os enormes ganhos durante a pandemia. Mas, no longo prazo, a posição superior da Netflix no mercado de streaming de vídeo está intacta, de modo que qualquer fraqueza maior, em nossa visão, deve ser encarada como uma oportunidade de compra.
Apresentamos abaixo três importantes fatores que dão suporte ao otimismo com a Netflix, apesar da recente fraqueza:
1. Alcance global
O argumento mais forte para a tese de alta da Netflix é o alcance global em expansão da empresa. Embora cerca da metade dos seus potenciais clientes esteja nos EUA, a empresa ainda é um pequeno player em diversos mercados, como Ásia, África e Europa Oriental. A região Ásia-Pacífico, onde a NFLX tem menor presença, vem contribuindo com o maior número de novos clientes neste ano.
A Netflix conquistou 209 milhões de 800 milhões a 900 milhões de residências que ela afirma usar internet banda larga ou TV paga. A companhia acredita que conquistará mais da metade dessas pessoas. Não só ela continuará crescendo em locais como Ásia-Pacífico e América Latina, como também seguirá em expansão nos EUA, Canadá e Europa Ocidental.
O crescimento global de assinaturas da Netflix está sendo impulsionado pela expertise da companhia nos conteúdos de preferência dos públicos locais, além de conhecer o marketing ao qual eles respondem. A companhia ainda produz mais conteúdo local do que qualquer outro concorrente. Depois de criar uma programação amplamente assistida na Ásia, como o thriller coreano de zumbis “Kingdom” e as séries de reality “Indian Matchmaking”, no ano passado, a Netflix está gastando mais na região para garantir conteúdos exclusivos. Desde seu lançamento na Ásia, em 2015, a Netflix já lançou mais de 220 títulos originais na região.
Títulos em língua estrangeira da Netflix também ganharam popularidade neste ano, indo além dos seus países de origem e atraindo uma ampla audiência. “Lupin” da França, “Elite” da Espanha e “Quem Matou Sara?”, do México, são exemplos de grandes sucessos.
O co-CEO da Netflix, Reed Hastings, estima que os mercados internacionais podem vir a responder por 75-80% da base de usuários da companhia, similar ao Facebook (NASDAQ:FB) (SA:FBOK34) e Google (NASDAQ:GOOGL) (SA:GOGL35).
2. Melhora nas métricas financeiras
Se a batalha no mundo pós-pandemia é evitar que as pessoas cancelem suas assinaturas, está claro que a Netflix continuará bem posicionada para vencer essa corrida.
De acordo com a Parrot Analytics, apesar da queda na demanda por assinaturas no 2º tri, a taxa de cancelamento da Netflix continuou baixa em todo o mundo, em comparação com concorrentes, ressaltando a importância de um portfólio balanceado de conteúdo original e licenciado.
Outro fator positivo que os investidores de longo prazo devem levar em consideração é que a Netflix não precisa mais se endividar para crescer. Após anos de alavancagem para financiar sua produção, a Netflix disse que não precisa mais de financiamento externo para dar suporte às suas operações diárias. A companhia planeja reduzir sua dívida e recomprará até US$5 bilhões de ações.
De acordo com a área de pesquisa do Banco de Montreal, a Netflix solidificou sua posição como líder no streaming de vídeo e o preço das suas ações deve se recuperar forte nos próximos meses.
Em nota recente, o BMO afirmou:
“Acreditamos que uma boa grade de conteúdos no segundo semestre ajudará a NFLX durante o volátil período de reabertura, enquanto a gerência continua recomprando ações e dando suporte aos papéis”.
Gráfico: Investing.com
Graças à sólida situação financeira da Netflix, a comunidade de analistas continua otimista com a ação. Em um levantamento do Investing.com com 42 analistas, 32 classificam a ação como compra, com um preço-alvo consensual de 12 meses de US$610,49.
3. Entrada no mercado de jogos
Aproveitando-se da sua grande base global de assinantes, a Netflix está trabalhando para diversificar suas fontes de receita além do conteúdo em vídeo, ao adicionar jogos em sua oferta de assinaturas.
A projeção é que os gastos globais com software de jogos alcancem US$175,8 bilhões neste ano, superando US$200 bilhões até 2023, de acordo com a Newzoo BV. O foco da Netflix deve estar voltado aos jogos móveis, que podem representar quase metade da oferta deste ano, de acordo com uma reportagem do Wall Street Journal.
Mike Hickey, analista da Benchmark, disse na reportagem que a adição de jogos fará com que o serviço da Netflix fique mais “aderente”. Hickey afirmou:
“Você consegue assistir uma série de TV inteira em um dia, mas consegue interagir com um jogo constantemente por vários anos.”
De acordo com uma pesquisa da Deloitte, a Geração Z classificou os jogos como sua atividade de entretenimento favorita, acima de música, redes sociais e televisão. Para colocar esse projeto em prática, a Netflix contratou Mike Verdu, ex-executivo da publicadora de jogos Electronic Arts (NASDAQ:EA) (SA:EAIN34) e Facebook, para ser seu vice-presidente de desenvolvimento de jogos.
“Encaramos os jogos como uma nova categoria de conteúdo para nós, similar à nossa expansão em jogos originais, animação e TV sem roteiro. Os jogos estão incluídos na assinatura da Netflix sem custo adicional, similar a filmes e séries”, disse a Netflix a investidores em sua última carta trimestral.
Conclusão
Sem dúvida, o boom de assinantes da Netflix durante a pandemia chegou ao fim, à medida que a economia se reabre e as pessoas retomaram suas vidas normais. Mas a empresa de streaming saiu muito mais forte desse ambiente extraordinário do último ano, solidificando sua posição de caixa e mercado. Alguns trimestres fracos, em nossa visão, não devem ser encarados como um sinal de venda.