Mais notícias que estão surgindo sobre o IPO da Saudi Aramco sugerem que é possível que o processo seja mais demorado do que o previsto inicialmente. Até agora, o mercado tem especulado se o IPO ocorreria no segundo ou o terceiro trimestre de 2018. No entanto, apesar do atraso, é cada vez mais claro que tanto a companhia como a família real saudita tratam com seriedade a abertura do negócio da Aramco para o público.
Foram selecionados os bancos responsáveis pela operação (J.P. Morgan, Morgan Stanley e HSBC, segundo o Wall Street Journal) e o auditor das reservas de petróleo (Gaffney, Cline and Associates, segundo a Energy Intelligence) já está avaliando os dados da empresa. Com o andamento do processo, os investidores de energia precisam se perguntar os pontos abaixo, pois uma oferta inicial deste tamanho e escopo inevitavelmente terá um impacto no mercado.
A Aramco realmente vai se tornar em uma companhia internacional de energia do estilo ocidental?
O Wall Street Journal recentemente divulgou que alguns representantes do governo saudita têm pressionado a Aramco para se tornar pública antes do que o previsto. Por outro lado, outros funcionários têm defendido mais tempo para que a companhia atravesse reformas financeiras recomendadas pelos bancos. Essas mudanças (com a alíquota e o meio do governo saudita de taxar a empresa) são necessárias para mostrar aos investidores que a Aramco tem uma operação lucrativa que opera com um modelo mais próximo de BP (NYSE:BP), ExxonMobil (NYSE:XOM) e Chevron (NYSE:CVX) do que de uma National Iranian Oil Company.
Alguns argumentam que a Arábia Saudita irá transformar a Aramco em empresa pública sem completar a restruturação necessária, pois o país precisa de dinheiro. No entanto, as evidências apontam que mesmo com a continuidade do preço do petróleo em patamares baixos, a reservas internacionais da Arábia Saudita e o sucesso comprovado em colocar mais títulos no mercado garantem recursos suficientes para fechar seu orçamento dos próximos anos.
A Arábia Saudita provavelmente manterá o rumo do IPO da Aramco e aguardar o tempo necessário para reestruturar a companhia para conseguir o maior interesse possível dos investidores. Esse é melhor caminho para o longo prazo tanto da Arábia Saudita, quanto da Aramco. Além disso, a Aramco terá de cumprir requisitos mínimos de transparência, registros e padrões financeiros a depender das bolsas que optar por listar as ações (de acordo com o Wall Street Journal, a petroleira estuda as bolsas de Nova York, Londres e Toronto, além da saudita Tadawul. Isso indica que a empresa terá de se mover para um estilo mais tradicional de uma petroleira internacional, deixando o passado de uma estatal.
A Aramco vai se reestruturar em um conglomerado internacional de energia ou continuará com foco na sua missão primária de petróleo e gás?
A Reuters recentemente divulgou que executivos da Aramco debatem se a companhia deve se reestruturar para ser um conglomerado industrial ou manter o foco principal em óleo e gás. Essa discussão é importante para entender se a Aramco vai se aventurar no setor petroquímico ou se sua operação de downstream permanecerá dedicada a refinar o petróleo. Enquanto a petroleira é ativa no segmento de refino global, ela atualmente possui algumas atividades em petroquímica operadas pela Saudi Arabian Basic Industries Company (SABIC), mas ainda não fez uma entrada significativa neste setor diretamente.
Alguns especialistas argumentam que concentrar as operações em petróleo e gás tornará a Aramco mais atrativa, pois o foco e os recursos não serão divididos em áreas nas quais possui menor experiência e tecnologia. Outros, porém, acreditam que a menos que a Aramco se expanda para outros setores, seu potencial de crescimento será limitado. Uma incursão na petroquímica poderia movimentar o setor com os recursos financeiros da Aramco e seu acesso a petróleo e derivados.
Em relação à energia alternativa, a Aramco é uma investidora antiga em energia, tanto alternativa, quanto convencional. Na realidade, a Aramco é uma consumidora antiga da tecnologia de geração solar. Como a Aramco já investe nessas áreas não há indicação de que o IPO alterará sua estratégia neste mercado.
Como o IPO afetará os preços do petróleo?
Existe alguma especulação de que os sauditas estão deliberadamente adiando o IPO, pois, apesar do acordo de corte de produção da Opep com outros grandes produtores, a cotação do petróleo segue sem alteração. Uma cotação mais alta certamente elevaria o preço das ações da Aramco no IPO.
Uma indicação de que o IPO poderá ser mais tarde do que o previsto anteriormente é que a Arábia Saudita, via Opep, ainda não mostra urgência para elevar significativamente os preços do petróleo em 2017. E como uma urgência por cotações mais altas indicaria a chegada do IPO, os investidores devem ficar de olho nos planos da Arábia Saudita para o IPO da Aramco, pois isso seria um sinal de que os preços do petróleo irão subir.