- Números inconsistentes de diversas instituições e analistas estão gerando volatilidade nos mercados petrolíferos.
- Os investidores devem considerar esses números com base em suas visões em relação à perspectiva para a economia mundial.
- Os investidores também devem avaliar a probabilidade de uma oferta maior dos EUA e da Arábia Saudita.
Os preços do petróleo estão bastante voláteis ultimamente. Além de diversos fatores macroeconômicos, como temores de recessão e novos bloqueios sanitários contra a Covid na China, houve um salto nas oscilações de preço em decorrência de diversos números inconsistentes divulgados por instituições e analistas, tanto pelo lado da oferta quanto pelo lado da demanda.
Analisamos a seguir esses números e como os investidores devem encará-los criticamente:
1. Crescimento da demanda mundial de petróleo
O último Relatório Mensal sobre o Mercado Petrolífero da Opep considera que a demanda global terá um crescimento de 2,7 milhões de barris por dia (mbpd), atingindo 105,4 mbpd até o fim de 2023 e uma média de 102,99 mbpd para o ano. Esse número é maior do que as previsões de outras organizações.
A EIA, agência de informações energéticas dos EUA, considera que a demanda mundial de petróleo terá um aumento de 2 mbpd, atingindo 101,7 mbpd em 2023. A Agência Internacional de Energia (AIE) acredita ainda que o consumo mundial de petróleo atingirá a média de 101,3 mbpd em 2023.
As diferenças estão na forma como as agências veem o desempenho da economia mundial, a resolução (ou não) dos conflitos geopolíticos e da contenção (ou não) da Covid-19 na China.
A previsão da Opep é feita por economistas profissionais que trabalham para a organização e não necessariamente corresponde às expectativas das autoridades dos países membros do cartel. Ela se baseia em uma perspectiva mais positiva para a economia global.
Os investidores que não acreditam que a economia mundial irá registrar uma recessão prolongada estariam mais em linha com a previsão da Opep. Por outro lado, os investidores mais preocupados com uma desaceleração econômica do mundo devem encerar com mais seriedade a previsão feita pela AIE.
2. Produção petrolífera da Arábia Saudita
O presidente dos EUA, Joe Biden, viajará para a Arábia Saudita, onde deve discutir soluções para os elevados preços mundiais do petróleo. O foco da visita estará direcionado à capacidade ociosa que o país árabe possui atualmente.
Também existe muita desinformação a respeito disso. O New York Times mostrou que Martin Indyk, ex-diplomata norte-americano para o Oriente Médio, afirmou o seguinte:
“A expectativa é que a Arábia Saudita aumente a produção em cerca de 750.000 barris por dia e que os Emirados Árabes Unidos sigam seu exemplo, com um mais 500.000 barris por dia, para um volume combinado de 1,25 milhão”.
Considerando o atual nível de produção da Arábia Saudita de 10,55 mbpd (de acordo com a Platts), esse aumento poderia fazer com que a oferta do país árabe atingisse 11,3 mbpd, ou 300.000 bpd acima da cota que lhe foi atribuída pela Opep para agosto, de 11 mbpd.
Tais números também seriam maiores, em bases mensais, do que o país extraiu desde 2020, com exceção de abril daquele ano, quando bombeou 12 mbpd.
A Arábia Saudita pretendia produzir 11 mbpd em julho de 2018. O país consegue produzir 12 mbpd (como já expliquei em um artigo anterior), mas fazê-lo poderia provocar um estresse indesejado em suas reservas petrolíferas, portanto é pouco provável que o reino se comprometa a um aumento tão significativo de produção.
Alguns analistas não acreditam que a Arábia Saudita possa produzir 11 ou 12 mbpd. Esse tipo de especulação já se estende por décadas e não é útil para os investidores que avaliam o mercado.
Seria melhor que os investidores se questionassem se a Arábia Saudita se interessa em produzir tal volume, o que poderia prejudicar suas reservas petrolíferas, e se o governo Biden pode oferecer ao país algo que o convença a assumir esse risco.
3. Crescimento da produção petrolífera dos EUA
Tentar prever o crescimento da produção dos EUA em 2022 tem sido um grande desafio.
A mais recente Perpectiva de Energia para o Curto Prazo da EIA considera que a produção americana atingirá a média de 12,2 mbpd no segundo semestre, um aumento de 600.000 bpd em relação à média do primeiro semestre. A Opep está mais otimista e vê um aumento de 880.000 bpd na produção dos EUA em 2022.
Os produtores petrolíferos norte-americanos também estão divididos quando ao crescimento da oferta do país. De acordo com as respostas de 117 empresas de petróleo e gás pesquisas pelo Federal Reserve Bank de Dallas, entre 8 e 16 de junho, 37% esperavam que a produção americana aumentasse entre 800.000 bpd e 1 mbpd. A expectativa de 34% era que a oferta crescesse menos de 800.000 bpd, enquanto 19% esperavam um aumento entre 1 e 1,2 mbpd.
Essa empresas, cuja maioria opera nas bacias do Permiano e Eagle Ford (NYSE:F), foram impactadas pelos transtornos na cadeia de suprimentos e por escassez de mão de obra. Tais dificuldades devem impactar sua produção esperada.
As companhias de óleo e gás pesquisadas pelo Federal Reserve Bank de Kansas, que abrange Wyoming, Colorado e Oklahoma, sofreram os mesmos problemas que as empresas do Texas em relação aos gargalos na cadeia de fornecimento e disponibilidade de profissionais. As previsões dos produtores do Permiano podem ser extremamente influenciadas por essas questões e prejudicar o crescimento da oferta.
Dessa forma, os investidores devem considerar que a Opep, que subestimou o crescimento da produção de shale oil em anos anteriores, esteja mais cautelosa com a capacidade da indústria petrolífera dos EUA e esteja superestimando a oferta do mais neste momento.
Aviso: A autora não possui posições nos ativos mencionados neste artigo. Publicado originalmente em inglês em 14/07/2022