Com a chegada do ano-novo, o foco das atenções do mercado de petróleo está voltado aos efeitos do coronavírus, ao debates na Opep+, às previsões de viagens nas festas de fim de ano e à política norte-americana.
Mas existem outros fatores importantes no mercado petrolífero que não podem passar despercebidos.
Apresentamos a seguir a situação atual de três grandes players da indústria petrolífera que ficaram de fora das manchetes durante boa parte do último trimestre: Irã, Venezuela e China.
1. Irã
O Irã é o país que mais tem a ganhar com a mudança do governo Trump para o governo Biden nos EUA. O presidente Donald Trump retirou os Estados Unidos do acordo nuclear firmado com o Irã pela administração Obama e implementou, em seu lugar, duras sanções contra o país persa, além de assassinar o chefe da sua Guarda Revolucionária.
Biden, por outro lado, prometeu em sua campanha levantar essas sanções e restaurar o acordo cancelado. Não se sabe ao certo como Biden se comportará perante o Irã, mas o país já planeja elevar sua produção petrolífera em 2021 com a intenção de exportá-la.
De acordo com a agência S&P Platts, o Irã produziu 2,02 milhões de barris por dia (mbpd) em novembro. Em 2020, a produção do país flutuou entre 2,12 e 1,95 mbpd.
Apesar das rígidas sanções atualmente em vigor, o Irã exportou cerca de 1,02 mbpd em novembro, segundo o portal TankerTrackers.com. Antes dessas restrições, o país produzia mais de 4 mbpd e já está começando a se preparar para voltar a extrair esse volume em 2021.
O orçamento do governo do presidente Rouhani para o ano-calendário iraniano que começa em março prevê vendas de 2,3 mbpd de petróleo. Como detalhou Rouhani em seu discurso de 9 de dezembro, a estratégia é impulsionar as exportações de tal forma que novas sanções seriam logisticamente impossíveis. A petrolífera estatal do Irã pretende elevar a produção para 6,5 mbpd nos próximos 20 anos.
A questão para os mercados é determinar se esses planos de produção e exportação são realistas e se já estão precificados nas projeções do mercado para 2021.
O Irã deve aumentar suas exportações clandestinas de alguma forma. A equipe de Biden não tem interesse de perseguir os violadores das sanções (principalmente em relação ao Irã), com o mesmo zelo que o governo Trump.
No entanto, muitos especialistas acreditam que o Irã não conseguiria aumentar a logística de exportações a uma escala capaz de influenciar o mercado até pelo menos a segunda metade de 2021. Por essa razão, não se espera um aumento significativo na oferta mundial proveniente do Irã.
2. Venezuela
De acordo com a Platts, a produção petrolífera da Venezuela em novembro foi de 430.000 bpd em média. Embora a Venezuela tenha as maiores reservas do planeta, de acordo com a Opep, mal consegue produzir petróleo, sendo inclusive obrigada a importar gasolina.
Durante a campanha, Biden indicou que não flexibilizaria as sanções ao país sul-americano, que o está impedindo de exportar petróleo e importar combustível. Vale a pena notar que, segundo o portal TankerTrackers.com, a Venezuela continua exportando petróleo com os mesmo métodos clandestinos usados pelo Irã.
No início de 2020, os EUA aplicaram sanções ao braço da Rosneft (MCX:ROSN) que detinha ativos na Venezuela e vinha vendendo petróleo do país. A Rosneft vendeu esses ativos para o governo russo, interrompendo a venda do petróleo caribenho.
Outras empresas, como ENI (MI:ENI), Repsol (MC:REP) e Reliance (NYSE:RS), estavam intercambiando petróleo pesado da Venezuela por produtos refinados, mas a ameaça de sanções secundárias dos EUA as obrigou a cessar as operações naquele país.
A menos que as sanções sejam levantadas, tudo leva a crer que o papel da Venezuela no mercado em 2021 pode se restringir ao de consumidor de produtos refinados.
Por outro lado, exceto por uma mudança política no país sul-americano ou procedimental nos EUA, os mercados não estão esperando muito da Venezuela no futuro próximo.
3. China
A demanda de petróleo da China está tendo grande influência sobre o mercado no final de 2020. Os pedidos de entrega de petróleo em janeiro e fevereiro no país são robustos, o que está impulsionando, em parte, o recente rali no produto.
Outro fator importante para 2021 é que a China quer aumentar sua capacidade de armazenamento nos tanques estatais em 100 milhões de barris. Para se ter uma ideia disso, a demanda mundial de petróleo nos últimos anos girou em torno de 100 mbpd.
As refinarias e instalações de armazenamento privadas devem crescer em 2021. Essas informações indicam maior demanda chinesa no próximo ano, o que, evidentemente, é um bom sinal para o preço do petróleo.