Não se sabe quando nem como a guerra comercial entre EUA e China terminará. Mas as hostilidades se acirraram drasticamente na semana passada, quando ambos os países enrijeceram suas medidas tarifárias, bem como suas respectivas posições, mesmo após dois anos de negociações.
Algumas dessas tarifas devem entrar em vigor a partir de 1 de setembro, atingindo algumas das maiores empresas norte-americanas, que sentirão o impacto dessa disputa em razão da sua significativa presença na China. Para compreender melhor os riscos envolvidos para essas empresas, vamos nos concentrar em três grandes ações, explicando seu lugar nessa disputa.
1. Apple
A fabricante do iPhone, Apple Inc (NASDAQ:AAPL), tem muito a perder com essa briga entre as duas maiores economias do mundo. Depois que a China anunciou, na sexta-feira, que planeja aplicar tarifas sobre outros US$ 75 bilhões de produtos dos EUA, as ações da Apple despencaram 4,6%.
A China é o terceiro maior mercado da Apple, gerando cerca de US$ 52 bilhões em vendas no último ano fiscal da companhia. As preocupações com o impacto da guerra comercial na Apple (NASDAQ:AAPL) se intensificaram em maio, depois que os EUA incluíram a Huawei Technologies na lista de empresas suspeitas, elevando os temores de que a China pudesse tomar ações contra a Apple e sua cadeia de fornecimento.
A maioria dos produtos da Apple deve ser atingida com tarifas de 10% nas próximas semanas ou meses. Produtos da Apple (NASDAQ:AAPL), como iPhones, iPads e laptops, já haviam sido taxados em 15 de dezembro, mas outros produtos, como Apple Watch, AirPods e diversos acessórios podem ser atingidos a partir de 1 de setembro.
Em uma reunião recente, o CEO da Apple, Tim Cook, teria dito ao presidente Donald Trump que os produtos da Apple (NASDAQ:AAPL) ficariam em desvantagem em relação a grandes concorrentes como a Samsung (OTC:SSNLF) se os produtos da empresa forem objeto de tarifas de importação. Um nota recente do Goldman Sachs apresenta o cenário no pior dos casos: os resultados da Apple seriam impactados em 29% se a China retaliar os EUA proibindo as vendas dos produtos da fabricante do iPhone.
Esse cenário, em nossa visão, é altamente improvável, em vista dos enormes investimentos da Apple na China e seu impacto na economia local. Mas as ações da Apple (NASDAQ:AAPL) certamente se enfraquecerão ainda mais se essa disputa se prolongar, ameaçando seu rali de 30% até agora no ano.
2. Nike
A gigante do vestuário esportivo, Nike Inc (NYSE:NKE), é outra grande ação de consumo que está vulnerável a um conflito comercial. De fato, a empresa já está sendo punida pela prolongada disputa por preocupações cada vez maiores de que a elevação das tarifas de importação da China ameaçará sua marca e reduzirá suas vendas.
Depois de dispararem até a máxima histórica de US$ 90 por ação em abril, os papéis da Nike caíram cerca de 11% desde que EUA e China impuseram tarifas mútuas de importação. As ações da Nike caíram 3,4% na sexta-feira, fechando a US$ 80,44.
No entanto, indo mais a fundo, fica evidente que os riscos para a maior empresa de vestuário esportivo do mundo não são tão grandes assim. A Nike vem diversificando a distribuição de seus produtos além da China, uma estratégia que a fez ficar menos expostas às tarifas de importações chinesas.
Cerca de 26% dos calçados e roupas da Nike eram feitos na China no ano passado. Mas, de acordo com o Susquehanna Financial Group, menos de 10% disso são importados para os EUA.
Na última teleconferência, os executivos da Nike reduziram a importância dos riscos da China, dizendo que a guerra comercial ainda não estava impactando a Nike, pois que a companhia continua selecionando produtos da China. Dito isso, as ações da Nike não conseguirão resistir a uma debandada de papéis expostos à China. Suas ações devem se enfraquecer ainda mais se as tensões comerciais continuarem.
3. Caterpillar
As ações da poderosa fabricante de equipamentos para construção e mineração, Caterpillar Inc (NYSE:CAT), também podem ser pressionadas por preocupações de que a companhia não conseguirá suportar a desaceleração causada pela guerra comercial. Seus papéis caíram mais de 3% na sexta-feira, para US$ 114,06, intensificando a queda de 13% no mês passado.
A Caterpillar afirmou recentemente que a expectativa é que as tarifas sobre importações chinesas aumentem seus custos com materiais em até US$ 200 milhões no segundo trimestre de 2019. A fabricante de maquinário pesado planeja compensar a maior parte dos custos maiores com elevações de preço em meados do ano.
Mas essa estratégia não deve poupar a gigante das máquinas de uma ampla desaceleração industrial que está atingindo tanto os EUA quanto a China. A Caterpillar, considerada um barômetro econômico, alertou neste ano que a economia mundial está desacelerando mais rápido do que o esperado, o que afetará suas vendas.
No último trimestre, a fabricante que máquinas pesadas declarou que seus resultados em 2019 ficarão na faixa inferior da sua previsão, devido a custos maiores, declínio nas vendas na Ásia e uma desaceleração nas despesas de óleo e gás na prolífica Bacia do Permiano. A China representa entre 5-10% da receita total da Caterpillar.