No post da semana passada tentei passar uma visão geral do setor de defesa, e agora vamos entrar em algumas companhias específicas do setor.
Lockheed Martin (NYSE:LMT)
Há mais de cem anos, em 1912, Glenn L. Martin fundou a Glenn L. Martin Company em Los Angeles, Califórnia. Ele começou a empresa depois de construir seu primeiro avião em uma igreja alugada, a pedido de ninguém menos que Orville Wright.
Quatro meses depois e a 400 quilômetros de distância, em 19 de dezembro de 1912, Allan e Malcolm Lockheed fundaram a Alco Hydro-Airplane Company, mais tarde renomeada para Lockheed Aircraft Company. Mecânicos, montaram uma loja em uma garagem, construindo hidroaviões que quebrariam recordes de velocidade e distância para voos sobre a água.
Em 1995 essas duas empresas se fundiram criar maior fabricante de produtos militares do mundo.
A Lockheed Martin é mais conhecida pelo F-35, um avião de guerra responsável por gerar um contrato de mais de 1 trilhão de dólares para a empresa, a maior aquisição militar da história. O Pentágono comprará centenas de aeronaves anualmente pelo resto das próximas décadas, proporcionando um fluxo de receita estável. Além dos aviões de guerra, a companhia também possui uma linha de negócio de mísseis hipersônicos e defesa antimísseis, reconhecida pelo seu sistema anti-balístico THAAD implantado ao longo da costa do Pacífico para combater ameaças da Coreia do Norte. A empresa também é proprietária da Sikorsky, uma das principais fabricantes de helicópteros dos EUA.
A Lockheed Martin sofreu junto com o mercado nas últimas semanas durante o sell-off causado pela disseminação da Covid-19. Há boas razões para a venda: a Covid-19 interrompeu a vida cotidiana, causou estragos nas cadeias de suprimentos e manufatura globais e deixou os EUA e o mundo à beira de uma recessão.
Há poucas dúvidas de que a Lockheed Martin será afetada. Funcionários do governo dos EUA que trabalham em casa podem atrasar a atividade de contratação e levar as receitas para os próximos trimestres. Fábricas e centros de pesquisa serão fechados temporariamente.
Mas, diferentemente do mercado de aviação comercial, a perda de produtividade no setor de defesa provavelmente será recuperada, porque os contratos já estão firmados. Existe sim o risco de revisão de contratos e cancelamento de projetos, visto que os gastos na solução dos problemas causados pelo lockdown podem obrigar o governo a reduzir despesas em outras áreas. Porém, Loockheed Martin possui exposição à projetos que o pentágono tem priorizado nos últimos anos. Mesmo que a economia dos EUA acabe em recessão, é improvável que o governo reduza sua demanda de longo prazo por caças e defesa antimísseis.
A empresa reportou seus resultados do primeiro trimestre de 2020 e registrou lucro de US$ 6,08 por ação e receita de US$ 15,7 bilhões, superando o consenso de Wall Street de US$ 5,80 por ação em ganhos e vendas de US$ 15 bilhões. A receita aumentou 9% ano a ano, e a Lockheed reportou um fluxo de caixa forte de US$ 2 bilhões no trimestre. A empresa revisou seu guidance marginalmente prevendo impactos causados pela Covid-19, projetando uma receita de US$ 62 bilhões, ante US$ 64 billhões.
Portanto, embora a pandemia certamente tenha impacto nos resultados do trimestre atual e provavelmente pese nos próximos trimestres, não acredito que haverá um impacto material de longo prazo nos fundamentos. A previsibilidade de receita através dos seus contratos de longo prazo, possibilidade de crescimento via desenvolvimento de novos projetos, múltiplos atrativos, dividend yield de 2,5% e um crescimento anual (CAGR) em torno de 10%, em um cenário de crescente tensão entre EUA e outras nações, faz da Lockhheed Martin uma empresa para se acompanhar de perto.
Suas ações têm se mostrado resilientes, voltando a negociar a patamar próximos aos de janeiro/2020.
General Dynamics (NYSE:GD)
A General Dynamics é uma empresa de defesa bem diversificada, com foco em áreas que incluem veículos, tanques, construção naval e sistemas marítimos, armamentos, munições e aviação executiva e sistemas de informação. A companhia iniciou sua historia em 1952 com foco total em produtos e serviços militares e ao longo dos anos 90 iniciou a diversificar seu portfólio de produtos a partir da aquisição da Gulfstream Aerospace Corporation, empresa que produz jatos corporativos, além adquirir empresas de TI.
Alguns dos produtos mais reconhecidos da empresa são o avião caça mais bem-vendido da história, o F-16 Fighting Falcon, e o míssil BGM-109 Tomahawk.
A empresa possui uma sólida carteira de contratos de defesa, incluindo o maior contrato de construção naval da história firmado em dezembro de 2019 para construção de 12 submarinos Columbia, projetando uma receita de US$ 115 bilhões. Seus estaleiros são responsáveis pela maior parte dos submarinos nucleares do país, e esse projeto é uma engrenagem importante na estratégia de dissuasão nuclear das forças armadas dos EUA. A expectativa é que os primeiros submarinos estejam operacionais em 2031.
A GD também possui uma das maiores empresas governamentais de TI do setor e pode se beneficiar da pandemia da Covid-19 se as agências governamentais precisarem atualizar seus sistemas de tecnologia para se adaptar ao home office.
A GD tem ficado abaixo dos seu pares nos últimos anos em relação à performance das ações por causa de um dos seus principais negócios comerciais: sua unidade de jatos executivos da Gulfstream. O mercado de jatos executivos nunca se recuperou da crise financeira de 2008-2009 e parece improvável que tenha um impulso agora, já que os clientes em potencial estão cortando custos e se acostumando a uma recessão.
Graças a essa exposição ao mercado de aviação comercial, as ações da GD não se recuperaram da queda recente, diferentemente da Lockheed Martin.
A General Dynamics ainda tem um grande e crescente negócio de defesa que parece manter-se muito bem, mesmo que a economia entre em recessão, com o Pentágono deixando claro que visa garantir que a indústria e seus fornecedores resistam ao que estiver à frente. Mas as vendas aeroespaciais representam cerca de 25% da receita total da General Dynamics, e provou ser difícil para as ações resistirem sem a ajuda da Gulfstream.
Ainda é uma boa empresa com muitos ativos atraentes e negocia com desconto de avaliação para seus rivais mais próximos. A General Dynamics negocia hoje com P/L 11x em comparação 15,45x vezes da Lockheed Martin e 22,89x da Northrop Grumman.
Northrop Grumman (NYSE:NOC).
A empresa foi fundada em 1994 depois da compra da Northrop pela Grumman, ambas empresas do setor de aeronáutica. A Northrop Grumman cria e desenvolve sistemas no ar (drones, caças, jatos), terra (defesa antimíssil, radares, logística) mar (sonares, sistemas antisubmarinos), cyber (sistema de defesa) e espaço (satélites, componentes espaciais, veículos de lançamento).
Desde a cisão de sua enorme operação de construção naval como entidade independente em 2011, a Northrop Grumman se concentra cada vez mais nos céus. A empresa é reconhecida seus bombardeiros, incluindo o bombardeiro furtivo original B-2 e o próximo B-21. Também cria subsistemas importantes para várias outras plataformas de aeronaves. A Northrop é líder em radares e sensores militares e se tornou uma força importante no espaço em 2018, quando comprou a Orbital ATK por US$ 9,2 bilhões, empresa especializada em foguetes espaciais. Uma curiosidade é que nos anos 90, enquanto passava por dificuldade financeira, a companhia quase foi vendida para a LockheedMartin, porém órgãos reguladores americanos não permitiram que a transação fosse concluída.
Hoje, a Northrop é uma gigante de vendas de US$ 30 bilhões ano, com vários contratos-chave do Pentágono em seu arsenal, incluindo o programa de bombardeiros B-21, que vale mais de US$ 80 bilhões e que não deve ser impactado pela Covid-19. Northrop também é o favorito para ganhar um contrato de US$ 60 bilhões para substituir o estoque intercontinental de mísseis balísticos da Força Aérea.
Northrop Grumman é muito mais saudável do que era no início da década e possui contratos de longo prazo que devem gerar receita estável nos próximos anos. Mas parece improvável que as ações da empresa passem mais uma década semelhante a esta última, quando se valorizaram quase 500%.
Ainda assim, as ações da Northrop têm se mostrado extremamente defensivas nesse cenário de maior incerteza, no comparativo setorial, enquanto o setor aeroespacial/defesa apresenta uma performance de -30,1% nos últimos 12 meses, NOC entrega 2,7%.
Na última semana a empresa anunciou um aumento de 10% na distribuição de dividendos na base trimestral, apresentando assim um dividend yield de 1,8%, bastante atrativo quando comparado com a média de 0,9% do setor, além de deixar claro que possui posição de caixa extremamente confortável para passar pela crise.