Quem acompanha o mercado financeiro de perto deve estar pensando, uma hora dessas, "nossa, quanta coisa já aconteceu este ano". Acompanhamos todo o desenrolar das vacinas, toda a confusão do Congresso e a expectativa do orçamento, toda a alta dos preços de commodities e muito mais!
Você também tem essa impressão? Pois saiba que ela está errada! Em termos de mercado, este foi um ano bem parado, vou explicar o motivo…
Volatilidade sempre tem! Todo dia tem uma ação caindo, outra subindo, dólar indo para lá e bolsa vindo para cá. Isso sempre teve e isso sempre vai ter! Mas note que, quando olhamos o gráfico da bolsa, estamos no mesmo patamar do início do ano:
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Fonte: Bloomberg
Com o dólar, podemos notar a mesma coisa! Mesmo patamar a partir de março de 2020
Fonte: Bloomberg
Um gráfico diário do real parece muito um eletrocardiograma. Ele oscilou agressivamente, entre 5 e 6, durante vários meses. As oscilações foram fruto de notícias políticas e globais, fluxos, novidades na Selic, enfim, todo tipo de motivo.
O investidor pode até querer se aproveitar desses movimentos de curto prazo para ganhar dinheiro. Mas é importante saber que são extremamente difíceis de pegar. Isso demanda que você esteja muito ligado ao fluxo, ao dia a dia, às notícias, receba informações diretas de Brasília, fale com os maiores especialistas de vacina, e assim por diante. Mesmo com todas essas informações, ainda assim não é fácil pegar.
Por outro lado, olhe este mesmo gráfico do real, mas com dados mensais em vez de diários:
Fonte: Bloomberg
Olhando este gráfico, o real parece muito mais que está em um platô a partir de março, não parece? Foi no período de dezembro de 2019 a março de 2020 que tivemos um grande salto na cotação; a partir daí, foi só ruído.
A mudança de patamar é muito mais factível de antecipar, pois tem a ver com fundamento. Tivemos, nesse período, a chegada da pandemia no mundo, a necessidade de abandono da política fiscal restritiva, a fuga do fluxo para países desenvolvidos, a redução da nossa taxa de juros.
Mudanças estruturais são mais fáceis de operar. Grandes tendências também, pois são ligadas ao fundamento econômico e são como imãs atraindo os preços para determinados patamares, mesmo com oscilações.
Eu prefiro focar nessas tendências a tentar pegar as oscilações de curto prazo. O duro de focar na tendência é exatamente a situação que estamos tendo agora: nada acontece! Neste momento, a mão coça para fazer alguma coisa. A cabeça frita para se ter uma ideia. Ficamos com a ideia errada de que temos que caçar uma operação.
Recebo, diariamente, perguntas dos meus clientes do Advisor querendo novamente um call spread de 440 por cento de ganho como fizemos no final do ano passado. Mas gente, não dá. Não dá para criarmos oportunidades quando elas não existem. Forçar uma operação em um momento de mercado de lado é rasgar dinheiro.
Eu sei que a mão coça. A ansiedade de fazer alguma coisa vem. Eu sei! Mas investir com sucesso é exatamente controlar as emoções para que você consiga ver a floresta, e não somente uma árvore.
O seu psicológico é que vai ditar se você será um investidor de sucesso ou não. Não é o seu amplo conhecimento técnico, por incrível que pareça. Você precisa ser paciente na maioria do tempo. E quando chegar a hora, você precisa ser agressivo e alocar grande nessas boas oportunidades.
A única coisa que realmente saiu do lugar este ano foi o juro, principalmente o longo:
Fonte: Bloomberg
Voltamos aos patamares de meados de 2019! Com muitos gastos, muitos estímulos e aumento dos preços das commodities, as taxas estão beirando os dois dígitos.
Do jeito que o nosso Congresso está se comportando, podemos até ver as taxas subirem ainda mais. Além disso, temos também a alta nos juros americanos, que também influencia o aumento de taxas aqui. Isso é uma tendência estrutural que acho que vale a pena dar uma boa olhada com carinho.
O aumento dos juros americanos pode ser uma tendência dessas que vemos poucas vezes, mas que geram uma excelente oportunidade.
Um abraço