O ano de 2020 promete e deve ser um período desafiador para Bolsonaro e sua equipe de ministros.
Antes de tudo e levando-se em conta a história de quase todos os governantes até aqui, logo após o primeiro ano, quase sempre de ajustes, notou-se sempre uma tendência de transformar o governo em mais populista, até pelo fato de começar a mirar no processo de reeleição. Quanto mais, não seja pelo fato de que as reformas que o Brasil necessita se chocam com os pleitos da sociedade, que ficou oprimida por anos de recessão e de crescimento baixo, e ainda com taxas de desemprego elevada que retira o poder de compra e adia o consumo e reposição de bens e serviços.
Portanto, uma guinada populista acabaria por excluir pautas importantes de ajustes macro e microeconômicos, absolutamente essenciais para ampliar a segurança jurídica e atrair investimentos externos (principalmente) e internos, já que o governo quase não tem potencial de puxar o consumo e o investimento.
O Brasil de ontem tinha por hábito deixar as coisas pela metade. Bastava uma medida de impacto para que o Congresso e o Executivo “deitassem eternamente em berço esplêndido”, acreditando que tudo estava novamente nos eixos. Aprendemos com a dura realidade dos governos anteriores que isso não era verdade. Porém, diz o ditado que “o uso do cachimbo faz a boca torta”, e é exatamente isso que não gostaríamos de assistir novamente.
Precisamos de forte guinada e essa guinada virá ou não virá até o primeiro semestre de 2020, sob pena de termos que esperar passar as eleições de 2021. E como já falamos várias vezes, podemos estar novamente perdendo o bonde da história. O Brasil deveria estar avançado nas reformas estruturantes para cooptar investidores em todo o mundo, numa fase em que os EUA crescem forte, a China retoma investimentos e possivelmente o crescimento e a União Europeia sinaliza que já pode ter atravessado seu pior momento econômico, mesmo como em alguns países, assim como aqui no Brasil, precisem também de reformas estruturantes.
Poderíamos estar bem avançados na sedução dos investidores com marcos regulatórios palatáveis, proporcionando segurança jurídica para investimentos de longo prazo, captando recursos com taxas de juros negativas e/ou próximas de zero e estimulando investimentos “green field” para preparar o futuro.
Precisamos reverter com urgência nossa síndrome de vira-lata e reduzir o déficit fiscal de forma perene, ao invés de fixarmos em reduções não recorrentes. Precisamos atuar melhor sobre nossa balança comercial que começa a mostrar sinais de exaustão e buscar melhor o equilíbrio de nossas contas externas que também começa a mostrar sintomas de deterioração.
Paulo Guedes e sua equipe bem sabem o que é preciso fazer, assim como boa parte do Congresso Nacional. É preciso incutir a sensação de urgência em nossos parlamentares e evitar disputas internas no Executivo para que se adotem medidas micro, que por si só, já traria grande eficácia. Temos outros bons ministros além de Paulo Gudes e Sérgio Moro e precisamos evitar ruídos políticos que só desagregam a base de apoio do governo e dificultam a aprovação de medidas.
Como diz o slogan de Bolsonaro, deveríamos todos ter “o Brasil acima de tudo”.
Precisamos construir numa terra arrasada e não nos contentarmos com pouco. Precisamos fazer o que é preciso e explicar bem isso para a sociedade, como fizemos com a reforma da Previdência. Se isso for feito, poderemos preparar o país para o próximo presidente, seja ele quem for. O povo que tem a percepção saberá entender nossas dificuldades.