Começamos 2019 bem!
Diferente de anos passados, onde esperava-se o pior do ano que se iniciava, em 2019 as apostas estão todas positivas! E eu dou crédito aos motivos pelo qual nós estamos tão otimistas afinal.
Elegemos um presidente com uma visão totalmente pró-mercado e com uma equipe econômica que conversa e pensa capitalismo, como há muito tempo não se via no poder (ok, vou ignorar o fato de toda a carreira política do presidente ser de cunho estadista e antimercado).
O índice brasileiro de mercado (o Ibovespa) vem alcançando novos patamares “nunca vistos antes na história desse país”. As empresas voltaram a investir, ou pelo menos a indicar que pretendem investir. Os índices de confiança da indústria, comércio, varejo e até dos consumidores mostram que sim... 2019 vai ser o nosso ano!
Mas eu sou lobo cansado de mercado (já estou há quase dez aos por aqui) e, diferente do que pensa a maioria dos meus colegas de profissão e bolsa, eu acredito firmemente que estamos caminhando rumo a um abismo econômico mundial jamais visto.
OK, ok. de cenário interno não tenho como contestar você, caro leitor, que pode me provar por A mais B que aqui dentro de casa está tudo bem. Eu não vou discutir esse mérito com você.
Mas e se nós olharmos para o cenário lá de fora? Qual a última vez que você leu ou acompanhou as notícias do exterior para sentir a temperatura de como anda o mercado internacional?
Pois bem, eu pelo menos acompanho todo dia! E a minha conclusão?
Crise à vista - Eu já vi esse filme! Igual ao período entre 2008, data de implosão da última grande crise mundial, e 2010, quando todos os grandes países do mundo estavam quebrados, o Brasil parecia estar imune ao que acontecia com o resto do universo e com seu otimismo interno ia seguindo passo a passo seu caminho rumo ao sucesso (crescemos 7,5% em 2010, ora pois).
Mas o que parecia uma “marolinha” à época, se mostrou depois um tsunami, um furacão, um vulcão e um maremoto. Só que tudo ao mesmo tempo.
Percebemos que não só não estávamos imunes à marola, mas também descobrimos que quando o mar baixou estávamos nadando pelados. E o mundo inteiro viu!
Tudo bem que as ferramentas utilizadas para garantir o crescimento econômico (o famoso tripé da nova matriz econômica baseada na expansão de crédito) não são as mesmas ferramentas que o governo pretende usar agora. Mas pelo menos pra mim fica no ar um só sentimento: uma hora todos os problemas lá de fora vão vir bater aqui.
O ano de 2019 é, portanto, na minha opinião um divisor de águas no que diz respeito ao sucesso econômico brasileiro. Ou arrumamos a casa com um elevado nível de reformas (previdenciária, fiscal, trabalhista) nos dando fôlego para nos manter minimamente estáveis frente a uma nova crise, ou vamos afundar de vez e deixar de ser um país relevante para o cenário mundial. Explico.
Novamente o Brasil perdeu o bonde de crescimento mundial e enquanto seus pares consolidavam sua recuperação, o país afundava em sua mais severa crise já vivida. Agora então com diversos sinais de pré-recessão vindo de diferentes economias, ficamos numa situação bastante desconfortável.
Podemos ser pegos no contrapé, ou seja, sofrermos um forte baque de uma recessão mundial em plena retomada econômica.
Não adianta nada estarmos produzindo e exportando se no final das contas, não tivermos para quem vender. Lembre-se: uma boa parte da nossa cesta de produtos é baseado em commodities (carne, soja, milho, café) e se lá fora ninguém puder pagar, o dinheiro não entra.
Essa semana mesmo (última semana de janeiro de 2019) saiu um dado que a exportação brasileira novamente voltou a concentrar seu volume em produtos básicos, ou seja, com a queda do poder industrial aqui dentro, nós focamos na venda de commodities lá para fora.
Mas afinal, o que me assusta tanto no exterior?
Existem 3 pontos principais que para mim são o determinante de 2019. Eles individualmente já fazem barulho, mas quando postos juntos, podem desencadear uma sequência de problemas que podem contaminar todo o globo. São eles: 1) O Reino Unido, 2) A Europa e 3) Os Estados Unidos x China.
1) Brexit – Sai ou não Sai:
Essa novela vem de tempos e há quase dois anos estamos na expectativa de como seria o tão esperado acordo entre o Reino Unido e a Europa para a saída da primeira do União Europeia, algo até então inédito.
Pois bem, sabido o lado vencedor, o Reino Unido (RU) teria a partir de então aproximadamente dois anos para amarrar um acordo que agradasse ambos os lados. Mas o que parecia ser relativamente tranquilo e ter um prazo razoavelmente bom, tornou-se o pesadelo do governo britânico.
O parlamento inglês e a primeira ministra Theresa May, quem ficaram responsáveis pela dissolução da participação do RU na U.E. demoraram meses e meses apenas levantando dados e estatísticas para formular seus primeiros passos no acordo que, ao meu ver, teve de ser feito um tanto quanto às pressas. Mas porque eu digo isso?
Repare que a versão final do acordo não agradou nenhuma das partes, onde ouvimos pelo lado da U.E. que o acordo estava restritivo demais, e pelos lados dos britânicos e afins que ele estava permissivo demais. Os dois lados bateram no acordo ao longo de toda a sua elaboração e este foi se mostrando um fracasso ambulante quando membro após membro do colegiado político pró-Brexit foi abandonando a equipe de transição da era pós saída, além da May ter sofrido dois votos de desconfiança (uma espécie de impeachment deles).
Pontos realmente relevantes como as fronteiras entre as Irlandas foram decididos em cima da hora (ou sequer decididos), o que levou internamente a uma rixa no parlamento. Na última semana o acordo então não foi aceito pelo quórum mínimo necessário e agora a equipe tem até essa semana para trazer um acordo melhor (se não conseguiram em 2 anos você acha mesmo que vão fazer em alguns dias?).
A parte que me assusta agora é que março está aí, e dia 29 do mês é a data limite para que exista um acordo de saída assinado ou então algo que a mídia apelidou de hard-Brexit (saída dura da U.E.). Já se comentou sobre um adiamento desta data até julho/19, mas não importa, a mensagem foi dada e alguns leitores de mercado já a entenderam.
Haver um hard Brexit significa que, do dia para a noite, todas as regras que a U.E. aplica sobre seus não membros serão aplicadas também ao RU e, portanto, veremos uma confusão massiva no próximo dia útil seguinte. Aliás, veremos não... estamos vendo! Os britânicos e demais membros do RU já estão se preparando para isso, mesmo que os governos não assumam esse fato publicamente para não deixar transparecer um sinal de derrotismo.
Empresas multinacionais e principalmente bancos já estão deixando a Inglaterra e demais países e isso, num curto-médio prazo significa só uma coisa: desemprego, falta de consumo, menos impostos, mais tarifas contra o RU, perda de benefícios fiscais de acordos e etc.. Em resumo? Crise!
2) O velho continente, cada vez mais velho e cansado.
Se o continente europeu já era conhecido como ‘Velho Continente’ dado a sua história longínqua, hoje a má fama se dá por outros motivos: a velha máquina já não rende mais.
Tal como uma máquina de uma empresa que depois de um tempo se torna obsoleta e precisa ser substituída, a U.E. hoje é uma economia que respira por aparelhos cada vez mais caros e mais difíceis de se manter ligados.
No pós-crise de 2008 a U.E. estava economicamente destruída e muito foi exigido de seus governos para tentar manter suas economias minimamente funcionando. Podemos dizer que conseguiram? Sim e não!
Sim porque a U.E. está aí. Entre os trancos e barrancos crescendo seus 1% ou 2% anuais. A população voltou a ter em parte seu poder de compra e os governos mantiveram com algum sucesso o sistema financeiro do bloco econômico. Mas não também, porque a verdade seja dita, quem manteve a U.E. funcionado de verdade foi a Alemanha!
Um país de economia forte, sólidas instituições democráticas e governamentais, a Alemanha é um país voltado em grande parte para a produção industrial e isso a manteve crescendo enquanto demais países como Itália e França, que tem uma subeconomia em muito sustentada por commodities se viram despedaçar. Que (outra) verdade seja dita, quem manteve a Alemanha rodando suas máquinas foi praticamente a expansão da China (mas falamos isso depois).
E os demais países da U.E.? Espanha: desemprego em 15%. França: desemprego em 10% e sustentada por subsídios do bloco. Grécia: quase deu calote (salva pela Alemanha). Itália: 5 primeiros ministros em 4 anos, parlamento dissolvido repetidamente, déficit maquiado. Acho que você entendeu.
(Parênteses para a Itália que dá um artigo inteiro a parte. O governo italiano até há pouco estava batendo cabeça sobre seu orçamento que foi negado com risco de sofrer punições da U.E.. Houve um corre-corre para aprovar um orçamento megamaquiado com direito até de ameaça de um Quitaly, junção das palavras Quit e Italy, ou o Brexit da Itália).
Mas se isso não bastasse, os sinais de que um Brexit somado a uma guerra comercial estão afetando a economia do bloco começaram a aparecer. A Alemanha, o já comentado motor da U.E., começou a engasgar e a trazer dados cada vez menos otimistas. No terceiro trimestre de 2018, o PIB alemão contraiu 0,2%. OK, pouco, mas esse fato não acontecia desde 2015.
Quer mais dados? A produção industrial do país teve queda, o PMI (índice de confiança da indústria) reduziu, o próprio governo reduziu suas estimativas de PIB para 2018 e 2019 de 2,3% e 2,1% para 1,8% em ambos os anos (isso porque o governo tende a ser bemmmm mais otimista para ele mesmo não criar um clima de alarmismo). Ou seja, há sinais por toda a Europa que o bloco está perdendo suas forças econômicas. E isso quer dizer novamente a mesma coisa: tem crise vindo ai!
3) Guerra comercial – O megalomaníaco americano contra o controlador chinês.
Por fim, meu ponto mais forte de que o exterior vai sofrer em breve uma forte crise é baseado na já esgotada notícia sobre a guerra comercial entre China e Estados Unidos.
Tudo começou quando no início do mandato de Trump, foi levantada diversas questões sobre o fato dos EUA ser deficitário com uma grande parte dos países do mundo, ou seja, o país mais compra do que vende para seus parceiros comerciais.
Mas pensando que eles são a maior economia consumidora do mundo, faz sentido eles serem deficitários comercialmente com todo mundo, certo? Ao meu ver sim, mas não para o Trump. O presidente norte americano e sua equipe revirou dados e mais dados e fez uma lista do que iria ser sobretaxado em diversos países a fim de equilibrar as contas.
Mas para quem já leu sobre e viveu um governo populista sabe bem o que ele está fazendo.
O mundo é globalizado e isso significa que hoje uma empresa não precisa (nem deve) concentrar sua produção em apenas um país. Se é mais barato produzir a tela de um smartphone num país, o hardware em outro e a câmera num terceiro, que assim seja, pois com isso a empresa consegue baratear o preço final do seu produto e com isso garantir melhores margens.
Produzir nos EUA certamente não é o local mais barato do mundo, e sabendo disso, o Trump forçou que países que buscavam esse ganho de produtividade internacional a escolher entre duas opções: 1) Produza aqui nos EUA, mesmo sendo mais caro ou 2) Produza no exterior, mas eu vou te taxar!
E foi isso que ele fez, levantou uma dezena de barreiras fiscais contra a China e outros países a fim de equilibrar as regras do jogo. Mas o que ele fez na verdade foi forçar as empresas norte americanas a produzir internamente, gerando empregos, renda e, por que não, o pagamento de impostos.
Esse é um movimento protecionista e populista clássico, onde o governante torna difícil ou caro importar, obrigando empresas e consumidores e manter o dinheiro internamente. Além disso o Trump ainda deu incentivos fiscais internos para diversos setores, com menores taxações, estimulando assim que as empresas produzam mais. Mas se esse é um movimento benéfico a priori, ele traz muitos riscos no futuro.
Uma economia aquecida artificialmente só é forte enquanto o governo puder bancar essa festa fiscal (já vimos o que deu isso aqui no Brasil), e parece que por hora os EUA têm conseguido.
O problema é que o Trump foi puxar briga com cachorro grande, a China, que também tem armas pra se defender. Os chineses devolveram as taxações dos EUA com uma leva de taxações bilaterais e isso acabou irritando o governo norte americano. Começou a partir daí uma guerra de ameaças para ver quem tem mais poder taxativo e aguenta mais segurar a própria economia.
Eu, no início, apostava na China, mas diversos sinais mostram que o país não anda essas mil maravilhas. Na mídia, não param de pipocar notícias sobre a desaceleração da economia chinesa que, vamos concordar, era esperada, afinal ninguém consegue crescer a uma taxa de 10%...9% para sempre. Mas o medo dos analistas é que essa taxa desça rápido demais.
Com uma expectativa de crescimento de 6% e pouco para o biênio 2018-19, a China já começou a criar ela também incentivos fiscais para segurar a sua economia. Corte de impostos para pequenas empresas, redução de compulsório para as famílias consumirem, novas obras e investimentos públicos e taxação de produtos internacionais. Essas foram algumas das ferramentas que a China tem usado para mostrar que tudo vai continuar bem.
Mas se o mercado tem visto isso com bons olhos e esses movimentos tem feito as bolsas chinesas subir, eu fico cada vez mais preocupado. Novamente... economias que crescem com incentivos estatais SEMPRE quebram no longo prazo, pois o PIB só continua crescendo enquanto tiver grana para colocar na roda, quando a fonte seca a casa de cartas se desmonta com tudo.
Em que pese você argumentar que ambas as economias, chinesa e norte americana, possuem muita grana para gastar, lembre-se: os EUA é o país mais endividado (sobre o PIB) do mundo, com o congresso do país tendo frequentemente que liberar mais e mais dinheiro e neste exato momento eles estão sob um shutdown. E a China é hoje um país com o maior shadow banking do mundo, ou seja, as empresas lá são mega endividadas e alavancadas. Se faltar crédito na praça todas elas começam a falir num movimento de cascata absurdo que vai derrocar toda a economia.
Conclusão.
Os sinais estão aí para quem quiser ver. Pode ser que eu esteja pessimista demais, mas eu não estou sozinho nesse movimento.
Eu acompanho muitas casas de analises de mercado norte americanas e europeias e recentemente seus relatórios mensais tem mudado seu tom anterior de otimismo para leve desconfiança, onde muitos dos meus pontos elencados acima são reafirmados por eles.
Não quero parecer o maluco conspiracionista, enxergando nuvens negras num céu limpo, mas vale sempre dizer: eu avisei!