Há uma semana, escrevi em defesa dos dados de oferta e demanda petrolífera divulgados toda quarta-feira pela Agência de Informações Energéticas dos EUA (EIA, na sigla em inglês).
Argumentei especificamente sobre sua estimativa de produção no Relatório de Status Semanal do Petróleo. Embora se trate apenas de uma conjetura oficial, esse número é publicado pelo órgão responsável pelos dados de pesquisa mais transparentes do mundo a respeito da produção e armazenagem de petróleo. Eu afirmei que, sem um conjunto de dados alternativo com a mesma autoridade, o mercado teria que aceitá-lo como verdade.
Para respaldar meu argumento, baseei-me em um estudo feito por Keith Schaefer, da Oil & Gas Investments, que concluiu que a estimativa de produção semanal quase sempre era validada pelo Relatório Mensal de Oferta de Petróleo, da EIA. Para verificar isso, fiz meus próprios cálculos e descobri uma correspondência perfeita entre o relatório mensal de julho e a média estimada de produção naquele mês pela EIA. Caso encerrado, eu concluí.
Isso aconteceu antes de outra análise sobre feita nesta semana por Phil Flynn, do Price Futures Group.
Antes de nos debruçarmos sobre ela, é preciso ressaltar que Flynn é um analista com viés altista para os preços do petróleo e já sugeriu, em diversas ocasiões, que a metodologia de cálculo de produção semanal da EIA é, no mínimo, suspeita.
Depois que o relatório da EIA para a semana encerrada em 18 de outubro apresentou a mesma máxima histórica de 12,6 milhões de barris produzidos por dia (a qual se mantém há cinco semanas consecutivas), Flynn começou a se perguntar de onde a agência retirava seus números. O argumento defendido por ele era simples: a contagem de sondas operantes nos EUA vinha caindo drasticamente, a ponto de atingir as mínimas de abril de 2017, mas, mesmo assim, a EIA estava publicando estimativas de produção recordes.
“Ignorantes? Ou será que eles têm uma agenda?”
Nesta semana, o argumento de Flynn foi mais explosivo. Ele não só questionou a estimativa de produção da EIA, como também atacou seu balanço de estoques petrolíferos, o Santo Graal do Relatório de Status Semanal do Petróleo.
Flynn perguntou se a EIA ou alguém acreditava em seus números: “Vocês são ignorantes ou têm uma agenda?”
Seu ponto de vista? A EIA divulgou um impressionante aumento de 7,9 milhões de barris nos estoques petrolíferos para a semana encerrada em 1 de novembro, cinco vezes mais do que o mercado esperava.
Flynn começa questionando a queda substancial nas exportações de petróleo citadas naquela semana. De acordo com a EIA, as exportações caíram de 3,327 milhões de barris por dia (bpd) para apenas 2,371 milhões durante a semana até 1 de novembro. Se a diferença de 956.000 de barris fosse multiplicada por 7 dias, teríamos um total de 6,692 milhões de barris ao todo, afirmou Flynn.
O analista complementou:
“Com base nas melhores estimativas e em empresas de rastreamento de navios petroleiros, a verdade é que as exportações na última semana dispararam. Estamos falando de um recorde em torno de 4,4 milhões de barris por dia.”
“É uma questão de papelada, pessoal”
Jogando mais lenha na fogueira, Mason Hamilton, analista do mercado de petróleo, saiu em defesa da EIA. Hamilton foi ao Twitter, em meio às críticas ao último relatório da agência, argumentar que os dados semanais de importação e exportação da EIA não se baseavam em movimentos físicos.
Hamilton disse ainda:
“Os volumes de importação/exportação só aparecem nos dados da EIA quando a papelada correspondente for autorizada na alfândega. Rastreiem todos os navios que quiserem, é a papelada que importa.”
O analista afirmou que quem criticava os dados semanais de importação/exportação da EIA sem se atentar para esses fatos demonstrava ignorância ou tinha alguma agenda, o que ensejou a publicação de Flynn.
Ao contrário de Flynn, eu não assessoro clientes quanto a posições em energia ou em qualquer outra commodity. Certamente não tenho uma visão altista para o petróleo; pelo contrário, acredito que ele deveria estar sendo negociado abaixo de US$ 50, mas isso é tema para outro artigo.
No entanto, compreendo totalmente as frustrações de Flynn com a EIA. Ele reconhece que a agência “realiza um grande trabalho na maior parte do tempo", mas defende que seus dados semanais “basicamente não valem nada”.
EIA parece “admitir” falha
Para piorar, a EIA “admitiu que sua metodologia é falha" tomando como base os tuites de Hamilton, declarou Flynn.
O analista complementou:
“Sim, sou ignorante para entender por que a EIA divulga dados baseados em um sistema que pode induzir empresas e investidores ao erro, e minha agenda é tentar obter os dados mais precisos possíveis para meus clientes e para o bem da economia como um todo.”
“Está claro, pela própria admissão do sr. Hamilton, que não se trata de importações e exportações concretas. Trata-se de papelada. Ele quer que eu reconheça isso. Eu reconheço isso.”
“E também reconheço que o setor privado está fazendo um melhor trabalho de monitoramento de importações e exportações. Acredito que a EIA devesse usar as táticas do setor privado para dar aos contribuintes, que pagam por esses dados, os números mais precisos possíveis, para que possam gerir suas empresas da maneira mais eficiente que puderem, em vez de ficar esperando algum burocrata carimbar um pedaço de papel.”
Será que outra pessoa deveria fazer esse trabalho?
Flynn disse entender o fato de que o mercado de petróleo tenha passado por mudanças mais rápidas do que a capacidade de acompanhamento da EIA.
“O fato é que a EIA demorou a entender que os EUA deixaram de ser essencialmente importadores de petróleo para se tornar grandes exportadores.”
Outros desafios que a agência teve de enfrentar foram a evolução do shale oil e um mix mais variado e complexo de petróleo, além de novas classificações de gás, gás natural e outros produtos associados.
O analista complementou:
“Uma mudança que poderia ser útil é modernizar os procedimentos de contabilização de importações e exportações. Isso seria um grande avanço para todos no planeta.”
Eu concordo que a transparência de dados e de mercado é essencial na negociação de qualquer ativo, não importa se no lado da compra ou da venda.
Nesse caso, ao que parece, a EIA precisa melhorar suas práticas de rastreamento de dados adotando padrões do século XXI.