O Senado Federal aprovou a PEC 16 no último dia do mês. Antes disso, o PLP 18 para redução do ICMS sobre os combustíveis já tinha tramitado por ambas as casas e passa a ser implementado por estados na virada de julho (São Paulo e Goiás se anteciparam e já aprovaram a medida no final de junho).
O cenário econômico brasileiro traz suas peculiaridades. Vemos uma economia pujante neste primeiro semestre, com dados de atividade e mercado de trabalho indicando um crescimento próximo de 1,7% do PIB no ano. Isso, a despeito do forte aperto monetário implementado desde o começo do ano passado. A taxa de desocupação (divulgada no relatório da PNAD no dia 30/06) caiu para baixo de 10% e temos indicações que permanecerá abaixo deste nível nos próximos trimestres.
Apesar da desaceleração econômica global, chama atenção que o governo se empenhe para passar medidas de demanda neste momento. Evidente que há um problema inflacionário que impacta de sobremaneira as classes de menor poder aquisitivo, mas, como já apontamos anteriormente, parte relevante deste problema inflacionário está relacionado a uma restrição global de oferta.
Neste sentido, os cortes de tributos anunciados causarão uma redução sensível do índice de inflação no mês de julho (estimamos variação de -0.77% no IPCA do mês), mas a dinâmica inflacionária será adversamente impactada.
Ou seja, há uma contraposição entre uma inflação medida menor no curtíssimo prazo, junto com aumento das projeções no médio e no longo prazo. Consequentemente, elevamos nossa projeção de IPCA para o ano de 2023 para 5,5%.
Explicamos este fenômeno em algumas de nossas apresentações. Em termos teóricos, podemos pensar em uma família que tenha renda de x e gaste uma determinada porcentagem desta em combustíveis e o restante em todos os outros itens de consumo. A redução do preço do combustível levará a uma redução da porcentagem gasta com combustível. No entanto, a menos que esta diferença se transforme em poupança, haverá um aumento de outros consumos. É justamente esta dinâmica de substituição de consumo que leva a um aumento da projeção de inflação no médio prazo.
Evidentemente, esta dinâmica adversa da inflação dificulta a tarefa do Banco Central, o que sugere que a taxa Selic permaneça em patamar elevado durante longo período de tempo.
Nossa projeção central no momento enxerga mais uma elevação de 50 pontos base em agosto e manutenção dos juros em 13,75% até ao menos o final do primeiro semestre de 2023. Consequentemente, impõe-se uma dinâmica adversa para a atividade no começo do ano que vem, o que, dado que o mercado atua sempre em antecipação, pesa sobre preços de ativos neste momento.