William Strauss e Neil Howe são conhecidos por terem criado o termo “millennials” para se referir à geração de pessoas nascidas entre 1982 e 1996. A definição de gerações é baseada na tese de que pessoas nascidas em períodos próximos têm a tendência a apresentarem comportamentos comparáveis, fenômeno causado por fatores exógenos experimentados por essa geração.
De forma simplificada, uma geração é formada por meio de um gigantesco comportamento de manada.
Esse tipo de comportamento faz referência a uma ação coletiva adotada pelas pessoas ao se espelharem em outras ao seu redor. Ele é muito mais comum em momentos ou ambientes de altíssima incerteza, como no mercado financeiro, quando investidores começam a vender ou comprar só porque a Bolsa disparou ou despencou, sem saber o que está acontecendo.
Embora esse seja um comportamento que possa, em alguns casos, ser considerado prejudicial, pois reflete decisões tomadas sem a devida reflexão, um investidor consciente pode tirar proveito da situação.
A exemplo disso, podemos citar gestores de fundos de private equity e venture capital (que compram empresas não listadas), sempre atentos às grandes tendências de longo prazo, com o objetivo de compreender a probabilidade de um tipo de companhia ser mais desejado por potenciais compradores no futuro.
O que você acha que seria mais atrativo para um futuro comprador: uma empresa de tecnologia no setor financeiro (fintech), popular entre seus clientes, que traz produtos gratuitos, com ótimo atendimento e que pode gerar uma disrupção no setor bancário, ou uma fábrica de armas?
A primeira opção, bem mais atrativa, não por coincidência deve te remeter ao Nubank. A ideia que originou a fintech teve tanto sucesso atraindo diversos correntistas e investidores que, após seu IPO, a empresa pode ser avaliada entre US$ 46 bilhões e US$ 51,2 bilhões. Bem próximo ao valor de mercado do Itaú (SA:ITUB4), mesmo tratando-se de uma instituição financeira que só teve seu primeiro trimestre com lucro neste ano.
As fintechs são uma tendência já estabelecida no mercado financeiro, o que desejamos é identificar quais seriam as próximas grandes tendências. Afinal, chegamos ao ponto central deste texto: acreditamos que investimento ESG e de impacto pode ser uma delas.
O termo ESG faz referência a critérios para uma avaliação da sustentabilidade de uma companhia, levando em consideração fatores ambientais, sociais e de governança. Um fundo de ações com critérios ESG busca só investir em empresas aderentes aos parâmetros definidos.
Os investimentos de impacto são aqueles que, além de atenderem a critérios ESG, possuem uma atividade empresarial que gera impacto social ou ambiental positivo. Ou seja, enquanto ESG está ligado a processo, impacto é a combinação de processo e atividade empresarial.
De acordo com um estudo da Organização das Nações Unidas (ONU), estima-se que a quantidade de pessoas abaixo da linha de pobreza nos países da América Latina deve subir de 30,5% para 33,7% de 2019 para 2020. Em complemento a isso, nos deparamos com um aquecimento global atingindo níveis sem precedentes, levando o secretário-geral da ONU, António Guterres, a considerar os novos dados divulgados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) como uma “sentença de morte para o carvão e os combustíveis fósseis antes que eles destruam o planeta”. Esse tema, assim como muitos outros, foi abordado na COP26, conferência sobre mudanças climáticas da ONU.
De acordo com um relatório da MSCI, estamos no meio de um período de transição, em que pessoas entre 25 e 40 anos — millennials, em sua maioria — passarão a ser responsáveis pela tomada de decisão de investimento de mais de US$ 30 trilhões. O mesmo relatório mostra que 95% dos millennials estão interessados em investimentos sustentáveis, sendo que 57% deles pararam ou se recusaram a investir em uma companhia por causa de algum impacto social ou ambiental negativo.
As empresas notaram essa tendência. Muitas estão se movimentando para se tornarem sustentáveis. Gestores de fundos têm se aprofundado no assunto, com alguns deles passando a adotar boas práticas ESG e criando fundos dedicados ao tema.
Entretanto, como tudo que se torna popular, “falsificações” tendem a aparecer. Portanto, infelizmente, não é tão incomum nos depararmos com práticas de “greenwashing” — quando uma companhia faz um produto ou serviço ESG, mas o restante de seu negócio não segue as mesmas práticas.
Com base nessas informações, parecemos caminhar em direção a um processo de migração de uma geração para a qual o principal motivador para investir era o ganho de capital puro e simples, para uma geração que, além dos altos retornos, deseja investir com propósito e sem prejudicar a sociedade no processo.
De volta ao Nubank, na sua opinião, quais motivos levaram essa fintech a atingir um valor de mercado tão alto? Um dos fatores determinantes pode ser aquele considerado um dos que mais se destacam no mercado financeiro e que define a direção da manada: fluxo de capital.
Quando falamos que o tema ESG tem atraído atenção da sociedade e faz — ou fará — parte da tomada de decisão de alocação de trilhões de dólares, podemos dizer que o fluxo de capital tem alta probabilidade de ser direcionado para ativos relacionados ao tema.
Acreditamos que existe a possibilidade de estarmos próximos de uma mudança estrutural de longo prazo que afetará como o investidor escolhe o destino de seu capital e onde podem estar os grandes retornos.
Quando a manada começa um grande movimento migratório, você prefere ficar sozinho, exposto a predadores e comendo grama amassada, ou quer acompanhar o movimento até um pasto novo e mais verde?
Um grande abraço