O mercado anda muito ansioso com o resultado destas eleições. Não apenas pela chance maior de Biden vencer e termos uma troca de presidente nos EUA, mas também por conta das chances cada vez mais relevantes de uma blue wave.
O que é isso?
Seria o caso de os democratas se tornarem maioria na Câmara e no Senado também, além de levarem a presidência. Ter a maioria nas casas é uma proeza e tanto, além disso, ajudaria muito o novo presidente com as aprovações dos seus planos propostos.
Biden, que faz um plano de governo ambicioso com estímulos de até 7 trilhões de dólares, poderia ter mais facilidade em executar de fato boa parte das promessas de campanha.
Sabemos que o governo Bolsonaro é mais alinhado ideologicamente com Trump, então teremos que observar como se dará a nova relação entre Brasil e EUA.
Também estão se aproximando nossas eleições municipais, que acontecerão dia 15 de novembro. Elas também são muito importantes para definir o calendário de votação e discussão de reformas no Congresso.
Como as reformas estruturais são temas extremamente impopulares, os parlamentares deixam para tocar nesses assuntos espinhosos depois das eleições. Muitos aqui me perguntaram por que a discussão das reformas esfriou. Pois esse é o principal motivo.
Ainda daria para aprovar algo este ano, depois das eleições? Até daria se houvesse muita vontade política, mas fica bem difícil pois só resta dezembro.
Tudo isso acaba influenciando bastante nos preços de mercado e nas notícias dos jornais. Você, como investidor, tem que enxergar além disso.
Você tem que olhar a página 2. Ou seja, separar o que é temporário do que é permanente.
Se o que for temporário mexer nos preços, opere contra.
Se o que for permanente mexer nos preços, respeite!
Ando alertando bastante meus leitores a respeito da transitoriedade dos efeitos do “coronavoucher”.
Enquanto os 600 reais trouxeram melhora do poder de compra de milhões de brasileiros, a redução do auxílio para 300 reais fez com que as vendas de supermercado despencassem 10 por cento, segundo notícia do Estadão.
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Imagine o que aconteceria em janeiro, com o auxílio acabando?
Será que é razoável imaginar que os preços de alimentos e o desabastecimento do supermercado não são um efeito temporário, estimulado pelo auxílio?
Em caso afirmativo, será que não é razoável que esses efeitos desapareçam ano que vem? As operações que dependem de uma demanda forte, como alta da inflação, deveriam ser respeitadas ou desafiadas?
Por outro lado, temos notícias importantes de aumento do desemprego. Os dados da PNAD publicados na sexta-feira mostraram desemprego em 14,4 por cento! A maior taxa já divulgada pela pesquisa.
O desemprego é temporário? Ou faz parte de um fundamento e deve permanecer por um bom tempo?
Ele é certamente muito mais permanente do que o auxílio emergencial.
Ele causa retração da demanda, desaquecimento da atividade e, claro, redução das pressões inflacionárias.
Esse dado deve ser respeitado ou desafiado?
Olhar as notícias diárias e separar o que é ruído do que é fundamento é a coisa mais importante que um investidor pode fazer.
Os jornais noticiam tudo! E os mercados também precificam tudo!
Isso pode gerar excelentes oportunidades de investimento. Basta seguir o fundamento e "trucar" o que for fumaça.
Esta análise mais ampla é o que faço na condução da minha carteira. Ajustamos o apetite para risco e cautela em função do fundamento.
Um abraço