É a economia, estúpido!
Durantes as eleições norte-americanas de 1992 o então Presidente Bush concorria à reeleição contra o jovem Bill Clinton. Com a opinião pública fortemente influenciada pelo fim da guerra fria e dissolução da URSS, as pesquisas no início do ano davam claro favoritismo a Bush.
Embora a política externa de Bush estivesse bem avaliada, internamente as coisas não iam bem e a campanha de Clinton soube colocar o dedo cirurgicamente onde mais doía no americano, a partir daí surgiu o famoso slogan “é a economia estúpido”!
Desde 2014, a economia brasileira patina e se mostra incapaz de obter um crescimento duradouro e sustentável. A herança deixada pelo governo Dilma aliada a decisões políticas questionáveis dificultou bastante a situação, e ainda veio uma pandemia para piorar as coisas.
O cenário atual do país é preocupante, o câmbio alto, inflação de quase 2 dígitos, juros com tendência de alta, 14 milhões de desempregados e uma dívida/PIB de 88% são sintomas de que as coisas não andam nada bem. Além disso, os dados industriais apontam que a economia vem dando claros sinais de desaceleração.
Para resolver todas essas questões o governo brasileiro possui alguns instrumentos, no entanto quando o assunto é resolver problemas estruturais o planalto parece ser míope ou incapaz de assumir tal responsabilidade.
Atualmente o país possui uma das maiores cargas tributárias do mundo, as famílias estão endividadas e o ceticismo com a economia já passa a reinar nos quatro cantos do país. Com as condições econômicas atuais, anunciar um aumento no IOF vai prejudicar ainda mais a fraca atividade econômica, além de aumentar o custo de crédito e desestimular qualquer retomada num momento que o país e o mundo dão sinais de desaceleração econômica.
Todo esse ceticismo já vem sendo refletindo no preço dos ativos de risco. Soma-se a isso a enorme instabilidade e incerteza causadas por falas do Presidente. Tudo isso fez com que o mercado financeiro local se descolasse dos seus pares mundiais. Enquanto as bolsas mundiais apresentam resultados positivos no ano o Ibovespa amarga um desempenho medíocre.
Quando eleito, o governo e sua equipe econômica obtiveram grande apoio do mercado financeiro por conta de suas propostas liberais. Entretanto, aumentar imposto para melhorar popularidade de Presidente vai na contramão de tudo o que prega o liberalismo e a escola de Chicago. Tal atitude desgasta ainda mais a já combalida relação entre Mercado e governo.
Embora seja possível que até a eleição de 2022 o governo aprove algum projeto relevante é pouco provável que o faça em virtude da proximidade do processo eleitoral. O “timing” para submeter reformas importantes foi perdido.
Além do aumento “temporário” do IOF o investidor já tem no radar os dias 20 e 21/09, quando ocorrerá a próxima reunião do COPOM que irá sacramentar um aumento da taxa SELIC. A cada alta dos juros o investimento em bolsa vai sendo desestimulado, pois aumenta o custo de capital para as empresas e torna mais atrativo os produtos de renda fixa.
O cenário permanece ainda mais desafiador em virtude da crise hídrica que deverá chegar ao seu ápice nos meses de outubro e novembro. Qualquer ambição de reeleição do governo passa pela melhora do ambiente econômico até o pleito eleitoral. Até lá caso a economia não apresente melhoras consistentes uma vitória governista torna-se improvável. Negar isso é ignorar a realidade dos fatos.