Que semana!
No domingo tivemos as maiores manifestações de rua da história do país, só comparáveis às da “Diretas Já”.
No dia seguinte, era consenso que o governo Dilma estava no fim. Muitos já começavam a conjecturar sobre se ela renunciaria, sofreria impeachmentou seria afastada, via TCU e TSE, este, pelas evidências do uso de recursos escusos na campanha eleitoral de 2014. Neste caso, tanto Dilma, como Michel Temer, acabariam cassados. Comentava-se também, na hipótese de impeachment, turbinada, cada vez mais, pelo parecer do TCU, pelas manifestações de rua e os eventos ocorridos na semana. Realmente, foi um turbilhão de acontecimentos graves. Gravações telefônicas divulgadas, envolvendo Lula e Dilma, assim como novos fatos da delação premiada de Delcídio Amaral, acabaram por colocar o governo encurralado. Lula se encalacrou ainda mais pelas mentiras em torno da procedência dos imóveis, o que piorou sua situação. Sua prisão seria então uma questão de tempo.
Para tentar salvá-lo, Dilma, logo em seguida, nomeou-o ministro chefe da Casa Civil. Teve por objetivo tentar blindá-lo com o “foro privilegiado”, tirando Sergio Moro do processo de investigação e levando-o ao STF. O problema é que a resposta da sociedade acabou surpreendente, numa perigosa escalada de protestos. Milhares foram às ruas ao longo desta semana, contra a posse do ex-presidente, até esta sexta-feira em suspense. Em paralelo, nas gravações, Lula acabou chamando as várias instâncias do poder judiciário de “acovardadas”, o que praticamente fragilizou a tese do “foro privilegiado”.
Ainda, o “rito do impeachment” avançou, nomeadas as representações dos partidos na Comissão Especial. Agora, esta terá sessenta dias para deliberar, depois enviado o processo para votação no plenário da Câmara. Esta votação deve acontecer ao final de abril, se houver celeridade e quórum em todas as sessões. Superada esta fase, este processo vai para o Senado, que aceitando afasta a presidente Dilma por 180 dias. Assumiria Michel Temer. No mais otimista dos diagnósticos, um desfecho disto tudo deve acontecer entre julho e agosto. No mercado, as reações foram pontuadas de forma ciclotímica, entre euforias e depressões. As primeiras, pela possibilidade de saída do governo Dilma ou prisão do ex-presidente. As segundas, pela reação do governo e a percepção de que como será complicado todo este processo.
A consultoria européia Eurásia, por exemplo, observou o forte avançar das chances de impeachment da presidente, em duas semanas passando de 40% para 75%. A consultoria MCM não deixou por menos. Acha que em 30 dias Michel Temer assume o governo. Muitos, inclusive, já consideram o cenário deimpeachment da presidente como algo básico. Não tem outra saída. Nós da Lopes Filho preferimos manter alguma reserva neste momento. Achamos que este será o desfecho, não sem antes haver muito desgaste. Será um processo mais longo.
Bom, a verdade é que no cenário atual tudo pode acontecer. O que for dito agora pode não passar de especulações, conjecturas, hipóteses, avaliações de possibilidade.
Realmente, está muito difícil prever o que deve acontecer nas próximas semanas. Na semana anterior, por exemplo, especulamos sobre a possibilidade da Dilma cair. Levantamos algumas hipóteses, cenários e nos apoiamos na possibilidade de Michel Temer atravessar até 2018 em “governo tampão”. No entanto, não podemos descartar a possibilidade da presidente se manter até 2018. Neste caso, o ex-presidente Lula (não sendo preso) assumiria a Casa Civil e teria um papel preponderante na formulação de políticas públicas e na articulação junto ao Congresso.
Afinal, qual seria seu espaço de manobra?
Achamos até que Lula assumiria como “primeiro ministro”, restando à Dilma o papel de “presidência sem poder”, algo decorativo ou simbólico (até sexta-feira pela manhã, diante da quantidade de medidas judiciais contrárias, não sabíamos se Lula assumiria).
Lula emergiu da crise, no ano passado, até como contraponto à política econômica do ministro Levy, tentando se desvincular do governo Dilma, com uma série de propostas oriundas do PT, no recém-criado “Plano Nacional de Emergência”.
Depois, neste ano, com Nelson Barbosa na Fazenda, voltou à carga, criticando a Reforma da Previdência e defendendo medidas mais incisivas para estimular o crescimento da economia. Achamos, no entanto, este documento do PT anacrônico e oportunista, muito mais interessado em dar sustentação ao governo Dilma e pavimentar caminhos para a ascensão do candidato Lula em 2018. Dentre as medidas mais comentadas do documento, destaque para o uso de reservas cambiais, alocadas em projetos de infraestrutura, redução de juro “à canetada” e uma série de tributações sobre patrimônio e alta renda. Todas, muito polêmicas, são rejeitadas por serem consideradas com grande potencial desestabilizador sobre o País. No caso das reservas, se usadas neste momento de crise, estaria perdida a última barreira contra uma profunda crise cambial no País.
Concluindo. No momento atual, de profunda crise de credibilidade, as medidas do PT parecem totalmente contraproducentes, e mais ainda, anacrônicas. Nem deveriam ser consideradas. O mercado, um dos alvos dos petistas, na verdade, não possui “histeria golpista”, mas sim reflete o sentimento de uma série de playersque administram bilhões dos seus vários clientes. É uma espécie de caixa de ressonância dos agentes. Quanto pior a economia, mais se torna volátil, “curto prazista”; quanto mais a economia está nos eixos, mais estável tende a ser o mercado. Neste caso, a tendência é de alta no longo prazo, mesmo permeada de oscilações temporárias.
Sobre o espaço de manobra do ex-presidente Lula na Casa Civil (caso assuma), o achamos extremamente limitado. Lula é um articulador experimentando e muito pragmático. Tentará se aproximar dos empresários, embora isto seja muito complicado, com a crise atual. Caso fracasse partirá para a confrontação, para os embates ideológicos, na velha retórica ultrapassada das esquerdas, “nós contra eles”. Será o fim deste ciclo populista do PT no poder.